Entre os dramaturgos cujas peças ganharam montagens com cenário de Helio, Chékhov tem destaque, como neste Jardim das Cerejeiras| Foto: Casa da Palavra/Divulgação
Maquetes de Helio para cenários de As Três Irmãs, de Chékhov, e As Preciosas Ridículas, de Molière
Teatro - Cartas de Marear – Impressões de Viagem, Caminhos de Criação - Helio Eichbauer. Casa da Palavra, 304 págs., R$ 52

Um livro que é um mapa de um dos trajetos possíveis para se conhecer a cenografia brasileira. Helio Eichbauer, que soma 50 anos no teatro brasileiro, costura suas memórias profissionais e pessoais em Cartas de Marear, acrescentando um molho ficcional, no que ele chama de "semibiografia".

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O artista cenografou a montagem de Rei Lear que estreou no Teatro Guaíra, em Curitiba, com Paulo Autran como o rei que divide o reino entre as filhas e enlouquece.

Também desenhou o visual da histórica encenação de O Rei da Vela, texto moderníssimo que Oswald de Andrade escreveu em 1932, à frente de seu tempo e de seu público. Esquecida por mais de 30 anos, ela foi desengavetada pelo Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa em 1967. A montagem é considerada o segundo marco do teatro moderno brasileiro, depois de Vestido de Noiva, montado pelo polonês Ziembinski em 1943.

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Outras montagens que o autor destaca em sua biografia são Álbum de Família, que cenografou na Venezuela com o uso de recursos de cinema, e O Percevejo de Vladimir Maiakosvski, em 1981.

Ilustrações

Outros espetáculos e inúmeras fotos de suas maquetes compõem o livro. Longe de ser um compêndio de trabalhos que ruma de porto a porto cronologicamente, a obra flutua como numa jangada à deriva da memória.

A infância em Copacabana faz a introdução, em que Helio relata a influência que tiveram sobre sua imaginação os teatros de bonecos da praça Serzedelo Correia, nos anos 1930, e brinquedos trazidos pela família do exterior. O clima lúdico se mantém nos capítulos que tratam da adolescência estudantil e da vida adulta.

Os importantes anos passados em Praga na década de 1960 ao lado do professor Josef Svoboda, com quem adquiriu sólida formação calcada na Escola Bauhaus, ganham ar de encenação teatral no relato sobre as acomodações em território diplomático brasileiro: um casarão aristocrata desocupado pelo governo comunista onde se encontravam vestes e acessórios da época do ôpa, com os quais ele e seus colegas desfilavam e se encantavam.

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Surgem também tintas ficcionais, como um solilóquio do rei espanhol Rodolfo II sobre seu retrato, feito por Giuseppe Arcimboldo em 1590 (pintor que retratava usando legumes e frutas no lugar de músculos e órgãos).

Helio voltou em 1966 ao Brasil, mas ainda passaria um ano em Cuba, a convite, antes de ingressar na classe artística nacional – acumulando então contatos e afetos entre criadores conterrâneos e fornecendo sua contribuição para a modernização dos nossos palcos.