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Estão de volta os personagens elegantes, os diálogos em português corretíssimo, as belas cenas externas. Tudo embalado, claro, pelos delicados acordes da bossa nova. Nas novelas de Manoel Carlos, o popular Maneco, até o núcleo pobre é finíssimo. Nem parece o Brasil. Mas o bairro do Leblon, cenário de nove entre dez trabalhos do autor, é assim mesmo: um cantinho chique e sossegado em meio ao caos urbano carioca.

Maneco faz questão de não mudar. Páginas da Vida, exibida a partir de hoje no horário global das "oito" (que começa às nove, vai entender...), é idêntica ao resto de sua obra. A começar pela personagem central, mais uma vez batizada de Helena – e mais uma vez interpretada por Regina Duarte. É a terceira Helena vivida pela atriz, porém a semelhança não se limita ao nome. O perfil também é o mesmo: o de uma mulher de bom coração, teimosa e dada a atitudes impulsivas (nem sempre muito inteligentes, diga-se).

A Helena da vez é obstetra e mão adotiva de Clara (Joana Mocarzel), que ela mesma ajudou a trazer ao mundo. Portadora da síndrome de Down, a criança foi rejeitada pela avó materna, Marta (Lilia Cabral), e separada da mãe e do irmão gêmeo ainda na maternidade. Mas criar uma menina especial em uma sociedade preconceituosa não é o único desafio da médica. Seu casamento com Gregório (José Mayer) está nas últimas, e a crise só piora com a descoberta de que ele tem um caso com a bonitona Carmem (Natália do Vale).

O par romântico de Helena, aquele com quem ela vai ficar apenas no fim da história, é Diogo (Marcos Paulo). "Médico sem fronteiras", ele conhece de perto o sofrimento do povo africano antes de retornar ao Brasil e se envolver com a heroína. O diretor Jayme Monjardim (refeito da briga com a noveleira Glória Perez, que lhe rendeu o afastamento de América) fez questão de gravar cenas "realistas" no continente negro.

Relação "aberta"

Outro núcleo importante da novela é a rica familia Martins de Andrade, encabeçada pelo casal Artistides (Tarcísio Meira) e Amália (Glória Menezes). Eles têm seis filhos que se conectam com praticamente todos os personagens da trama: Leandro (Tato Gabus Mendes), Elisa (a bailarina Ana Botafogo), Márcia (Helena Ranaldi), Jorge (Thiago Lacerda), a já citada Carmem e Olívia (Ana Paula Arósio). Esta última promete dar o que falar. Após se casar, nos primeiros capítulos, com o militar Sílvio (Edson Celulari), ela resolve ter uma relação "aberta". Uma oportunidade de ouro para Arósio, conhecida por seus trabalhos em mornas produções de época (Hilda Furacão à parte).

Quem também deve causar alvoroço é Sônia Braga, de volta ao folhetim depois de um longo jejum de 25 anos. Sua Tônia, artista plástica recém-chegada de uma temporada no exterior (que coincidência...), vai se envolver com Aristides após a morte de Amália. Sim, o eterno Casal 20 da tevê terá de se separar dentro de poucas semanas.

Além de tapas e beijos, mortos e feridos, Páginas da Vida contará com toneladas do chamado "marketing social". Da síndrome de Down à violência urbana – passando por bulimia, crianças abandonadas, aids e desrespeito ao idoso –, Maneco já avisou que pretende explorar como nunca os temas de interesse público. Há quem se aborreça com essa onda politicamente correta, mas nada pode ser pior do que o espiritismo de Alma Gêmea, Porto dos Milagres, América, Suave Veneno, Da Cor do Pecado e afins.

Seja como for, em Páginas das Vida o essencial se faz presente na relação mãe e filho (a), obrigatória em um formato consumido, sobretudo, pelo público feminino. Foi assim em todas as novelas de Manoel Carlos – Por Amor, Laços de Família, Felicidade, História de Amor, Mulheres Apaixonadas... E não dá para negar que, aos 73 anos, ele entende do riscado melhor do que ninguém. Pensando bem, para que mudar?

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