Programe-se
Haikai
Espaço Cênico (R. Paulo Graeser Sobrinho, 305 São Francisco), (41) 3338-0450. Quintas e sexta-feiras, às 20h30, e sábados e domingos, às 19 horas (pago) e às 20h30 (gratuito). R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Até 12 de maio. Classificação indicativa: 16 anos.
A notícia de que Roberto Alvim estava na mostra principal do Festival de Curitiba, com Haikai, levou muita gente ao Espaço Cênico para conhecer um pouco do trabalho do encenador carioca radicado em São Paulo que quer reinventar o teatro.
Além de seduzir a nova geração de dramaturgos curitibanos (ele dirige o Núcleo de Dramaturgia do Sesi-PR), Alvim encanta também gestores culturais o projeto de Nena Inoue, que faria um Dostoievski com incentivo municipal, recebeu autorização para se tornar "transumano", adjetivo que Alvim aplica à sua pesquisa.
"Em geral, os atores estão iluminados no palco e trazendo o texto para si. Ele não. Deixa todos na penumbra, indo em busca do texto. É um teatro sensorial", conta o ator Paulo Alves, que integra o elenco de Haikai, ao lado de Nena e Martina Gallarza.
O texto, também de Alvim, coloca vozes no lugar de personagens. Dividido em três partes, entrecortadas pela trilha sonora, fala de crimes e suas vítimas, de fantasias infantis negativas e da invocação de um ser "presentificado pela palavra".
Em resenha sobre a peça para o blog Horizonte da Cena, o escritor, músico e ator Luiz Felipe Leprevost afirma que, "tendo precisado da primeira e da segunda partes, é na terceira, todavia, que Haikai vai, como venho insistindo, longe demais. Nela há, enfim, a presentificação de algo que se invoca e, aparecido de outros mundos, segura-se neste. Quem volta do inferno traz o inferno."
"Não tive pesadelo, mas, no começo, tive labirintite", conta Nena, questionada sobre o efeito dos ensaios sobre si. Ao longo da experiência, ela diz ter se conectado mais às coias que "existem sem que sejam vistas".
A peça tem duração de 30 minutos e acontece numa sala preta. Ao final, os atores não voltam para os aplausos que nem sempre vêm após as peças de Alvim, dado o desconforto e a incompreensão.
"É um exercício extraordinário, que obriga a ter outra percepção. A gente quase não se reconhece como atores, e a plateia não deve querer entender, senão sai frustrada", completa Alves.
"É um trabalho muito gratificante para o ator que também busca ter autoria no que faz. É preciso abrir mão de recursos de interpretação, não usar o corpo como expressão, ter um domínio grande para não mexer a mão, por exemplo", explica Martina.
Exportação
Para seu Club Noir, que toca com a atriz Juliana Galdino no bairro Consolação, em São Paulo, Alvim tem levado textos de escritores locais, como Andrew Knoll e Diego Fortes. Um pouco sobre sua teoria do teatro pode ser conhecido no livro Dramáticas do Transumano (7Letras).