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Os números não mentem. Ao tentar contabilizar a quantidade sempre crescente de peças em cartaz, percebe-se que 2006 foi um bom ano para o teatro em Curitiba. Espetáculos locais e nacionais revezaram-se nos palcos de teatros e espaços alternativos como bares, cafés, parques e ruas. Com tanta produção, parece injusto relacionar em uma página o que aconteceu de melhor no mundo das artes cênicas curitibanas. Mas a retrospectiva a seguir rememora alguns destaques de mais uma temporada cênica que se encerra.

Algumas peças terminam suas apresentações com a promessa de retornar à cena em 2007. É o caso de Pincéis e Facas, de Paulo Biscaia, que esteve em cartaz recentemente e retoma temporada em fevereiro, no Teatro José Maria Santos. A montagem aborda elementos da vida e da obra da pintora mexicana Frida Kahlo, sem, no entanto, incluí-la como personagem. O diretor lança um olhar muito próprio sobre o universo da artista, a partir de seus quadros, entre eles "Unos Cuantos Piquetitos" (Umas Poucas Facadinhas), retrato de um homem diante da mulher nua, esfaqueada em sua cama.

Paulo Biscaia, aliás, teve um final de ano excepcional. A peça Graphic, que dirigiu e produziu com sua companhia, a Vigor Mortis, ficou pouco tempo em cartaz em dezembro, mas chamou a atenção pelo formato despretensioso e bem-humorado, que alia as linguagens dos quadrinhos, cinema e teatro. As duas montagens receberam, juntas, oito indicações ao Prêmio Gralha Azul.

O ator leandrodanielcolombo (assim mesmo, com minúsculas e tudo junto) participou de ambas as produções. Junto com Enéas Lour (Toda Nudez Será Castigada, de Edson Bueno) e Mauro Zanatta (A Queda, de Zanatta e Marcelo Marchioro), ele concorre ao prêmio de melhor ator, por seu desempenho em Graphic, além de ter sido indicado como melhor ator coadjuvante, por Pincéis e Facas. O ator foi prolífico no que diz respeito à produtividade: destacou-se, ainda, por sua atuação em Memória, montagem do Teatro de Comédia do Paraná, dirigida pelo carioca Moacir Chaves. A peça, baseada no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, fez longa temporada no Guairinha, entre os meses de agosto e outubro. Entre erros e acertos, o trabalho tem méritos justamente porque não teve medo de ousar na interpretação e na escolha do texto adaptado.

O diretor Edson Bueno também não pode se queixar. Começou o ano com o pé direito, com a boa repercussão da peça Toda Nudez Será Castigada, no Fringe, mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba. Depois, estreou Macbeth e Tangos, Portas do Céu – ambas indicadas para o Gralha Azul na categoria melhor texto adaptado. O encenador encerrou a maratona com Projeto Poe: O Corvo, recém-saído de cartaz. Bueno também dirigiu uma das cinco peças curtas que marcaram a reabertura do Teatro Novelas Curitibanas, inteiramente reformado.

Vale citar ainda o sucesso de público de Manual Prático da Mulher Desesperada, adaptação de Ruiz Bellenda do texto de Dorothy Parker. A peça estreou em outubro em um espaço alternativo (o bar Era Só O Que Faltava) e só saiu de cartaz no final deste mês. A interpretação de Adriana Birolli para a personagem em crise rendeu-lhe a indicação ao Gralha Azul de melhor atriz.

O retorno ao clássico foi a principal tendência percebida na Mostra de Teatro Contemporâneo, fatia oficial do Festival de Teatro de Curitiba, que em março trouxe 19 espetáculos de todo o país. As peças retomaram autores como Shakespeare, Carlo Goldoni, Brecht, Plínio Marcos e Ibsen. Outra característica foi a preferência por monólogos – um bom exemplo é A Descoberta das Américas, adaptação do texto de Dario Fo feita por Adriana Vanucci e pelo ator Júlio Adrião, aclamada até mesmo pela exigente crítica Bárbara Heliodora. O autor italiano, Nobel de Literatura em 1997, inverte a ordem estabelecida para contar a história da descoberta das Américas – o herói navegador europeu dá lugar ao indígena norte-americano.

Um único espetáculo "curitibano" participou da mostra oficial – na verdade, dirigida por um italiano recém-chegado ao Brasil, Roberto Innocente. Em parceria com a Escola do Ator Cômico, ele abriu o festival com Mirandolina, texto clássico da Commedia dell’Arte, escrito por Carlo Goldoni.

O Circuito Cultural Banco do Brasil trouxe um espetáculo ensaiado aqui, na sede da Sutil Companhia de Teatro, mas que ainda não havia sido apresentado aos curitibanos: Avenida Dropsie, adaptação de Felipe Hirsch de cenas clássicas das graphic novels de Will Eisner. A montagem fez chover em um local inusitado – o Teatro Guaíra, único espaço possível para abrigar o cenário impactante, de seis toneladas, criado por Daniela Thomas.

Bonecos de todo o Brasil invadiram Curitiba em 2006. Além do já conhecido Festival Espetacular de Teatro de Bonecos, do Centro Cultural Teatro Guaíra – que em sua 15.ª edição, em julho, reuniu 21 grupos nacionais e internacionais –, outra boa surpresa foi a primeira visita do Sesi Bonecos do Brasil à cidade. O evento reuniu 13 companhias de sete estados brasileiros, no Parque Barigüi.

Entre as atrações internacionais, Curitiba viu três espetáculos impressionantes. Os primeiros a chegar foram os artistas do Circo Internacional da China. O público lotou todas as oito apresentações no Guairão e ficou de queixo caído com as acrobacias impossíveis que formam o repertório de Millenium.

O Teatro Negro de Praga não fez tanto estardalhaço, mas quem assistiu as duas únicas apresentações desta técnica chinesa emocionou-se com o lirismo e a magia dos quadros apresentados. Para encerrar a contento, em novembro, o Balé Nacional de Cuba apresentou-se por aqui pela segunda vez – nesta ocasião, com a versão completa de Don Quijote.

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