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Na mão inversa trilhada pelos brasiguaios, milhares de paraguaios deixaram o país rumo ao Brasil. Perseguidos pela ditadura stroessnerista ou imbuídos da esperança de buscar uma vida melhor deste lado da fronteira, empresários, comerciantes e religiosos formaram uma colônia em Foz do Iguaçu. Aos 20 anos, com um filho no colo, Margarita Gimenez Baez deixou Caagazú, a 125 quilômetros da fronteira, em 1959. Na época, não havia alternativa. "Para não ser presa, tive que sair", conta ela, hoje com 72 anos. Fervorosa opositora ao regime militar, a família de Margarita foi perseguida e não houve outro jeito senão cruzar a fronteira.

Em Foz, a tranquilidade não era uma garantia. Com a Operação Condor (parceria política e militar feita entre Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, para reprimir opositores das ditaduras), os paraguaios viviam sob tensão. Não era possível confiar nem mesmo nas representações diplomáticas. "O consulado era fonte de informação do governo", lembra. Apesar das dificuldades, o Brasil ainda era um porto seguro para os perseguidos. Após a queda da ditadura, muitos paraguaios resolveram voltar ao país de origem, enquanto outros optaram por ficar no Brasil, até mesmo porque consolidaram vínculos por aqui.

O aposentado Florêncio Mo­­rales Sosa, de 72 anos, é um deles. Apesar de não ter procurado o país para fugir da ditadura, ele acabou acostumando-se com os ares e a liberdade. Presidente da Associação dos Imigrantes Paraguaios Residentes em Foz do Iguaçu, Florêncio aportou no Brasil em 1961 para trabalhar na construção da Ponte da Amizade, inaugurada em 25 de março de 1965. Desde então, não deixou mais a cidade. "Na época havia liberdade aqui. A ditadura brasileira era mais branda que a paraguaia", diz. Nesse tempo de estada no Brasil, Florêncio foi um participante ativo na comunidade.

Após a conclusão da ponte, trabalhou como carpinteiro, pedreiro e fundou a primeira Associação de Moradores de Foz, no Jardim Santa Maria, hoje Polo Centro. Agora, à frente da Associação de Imigrantes, um dos desafios é ajudar os paraguaios a conseguir documentação para viver no Brasil. Excluídos do país pelas forças políticas e econômicas, os paraguaios deixaram marcas em Foz. Um bairro, próximo à região da Ponte da Amizade, leva o nome de Vila Paraguaia. Hoje, estão presentes no comércio, nas salas de aula e vivem em harmonia com os brasileiros, apesar de alguns ainda passarem por dificuldades econômicas e estarem ilegais deste lado da fronteira.

Os primeiros registros da presença de paraguaios em Foz do Iguaçu datam de 1889, a partir de um estudo feito pelo exército. Na época Foz era uma colônia militar e reunia uma população de 324 pessoas, entre paraguaios e argentinos. Dados da Polícia Federal (PF) indicam que hoje 22.912 paraguaios vivem no Brasil. São estrangeiros regularizados com registro na PF. No Paraná, o número chega a 4.943, dos quais 2.858 vi­­vem em Foz. (DP)

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