No exato momento em que o Paraná é o centro das atenções mundiais em prol da preservação da biodiversidade, o governo estadual é acusado de colaborar com o processo de extinção da árvore-símbolo do estado, a araucária. A denúncia foi feita ao Banco Mundial pela Rede Mata Atlântica, que congrega cerca de 300 ONGs de proteção ambiental. O documento alega que o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) autoriza o corte de espécies ameaçadas e que o programa PRBio não está usando os US$ 8 milhões que recebeu para garantir a preservação das áreas remanescentes de Mata Atlântica no estado.

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A denúncia foi reforçada pela entrega de um relatório do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que aponta discordância com algumas das licenças ambientais concedidas pelo IAP nos últimos dois anos. De acordo com o superintendente do Ibama no Paraná, Marino Gonçalves, a interpretação do órgão estadual é um risco para a preservação de espécies ameaçadas. É que o IAP autoriza, por exemplo, a retirada de araucárias e imbuias que são consideradas secas ou podres. No entendimento do Ibama, essa medida é um convite ao "aparecimento suspeito" de madeiras nobres legalizadas em serrarias. "Na nossa opinião, árvore em processo de extinção não pode, de forma alguma, ser comercializada", resume. O caso será encaminhado nesta quarta-feira, pelo Ibama, ao Ministério Público.

Para a coordenadora-geral da Rede Mata Atlântica, Miriam Prochnow, os critérios usados pelo IAP mascaram a atuação dos governos dos estados do Sul, que não estariam fazendo o mínimo pela preservação ambiental. "Como é que se pode dar crédito à estrutura de licenciamento e fiscalização para a garantia da intocabilidade de remanescentes protegidos por lei se, na prática, o que ocorre em muitos casos é exatamente o contrário?", questiona o documento, ao qual a Gazeta do Povo teve acesso com exclusividade. A Rede pede uma auditoria técnica no programa PRBio, pois o investimento do Banco Mundial exige o cumprimento de metas, que não estariam nem perto de serem atingidas. Qualquer problema na execução do projeto pode resultar em pedido de devolução do dinheiro ou cancelamento do repasse de aproximadamente US$ 8 milhões, que estariam previstos para uma segunda fase.

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Alinhado com o discurso de que restaurar é importante, mas preservar o que ainda está em pé é muito mais, o diretor-executivo da ONG Sociedade de Pesquisa em Vida Silvestre (SPVS), Clóvis Borges, afirma que o governo paranaense erra na estratégia. "Se só resta menos de 0,8% da área original da mata de araucária, é necessária uma ação cirúrgica para salvar o que está acabando", pondera. Pelas estimativas da SPVS, os US$ 24 milhões destinados ao PRBio (dos quais 2/3 vêm do governo do estado) seriam suficientes para garantir a preservação de toda a área remanescente de mata de araucária no estado por mais de quatro anos, mas, em vez de aplicar o dinheiro na recuperação do que já foi perdido, os recursos deveriam ser destinados como incentivos para quem tem áreas conservadas.

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