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É possível que a literatura paranaense nunca tenha sido tão lida e comentada quanto foi em 2005. E por "paranaense" se entenda a produção local que, não raro, envolve autores de outros estados radicados no Paraná. A sigla PR apareceu nos prêmios Jabuti, Portugal Telecom, da Academia Brasileira de Letras, da revista Bravo! e Binacional das Artes e da Cultura Brasil – Argentina. Esteve também em eventos literários – como o Londrix (que surge para fazer frente ao Perhappiness) e, é claro, nas orelhas de livros que deram origem à parte da celeuma em torno das letras locais.

Para o jornalista e escritor Nilson Monteiro, o grande nome de 2005 foi Rodrigo Garcia Lopez, autor da nova tradução de Folhas de Relva (Iluminuras), do poeta americano Walt Whitman (1819 – 1892) e finalista com Nômada na categoria poesia do 47.º Prêmio Jabuti. "Não chega a ser uma revelação, mas mais uma consolidação. Ele começa a mostrar as garras para o Brasil", diz Monteiro.

Perguntado sobre a obra mais importante de um ano rico para o estado, o crítico literário e colunista da Gazeta do Povo Wilson Martins responde de bate-pronto: Um Amor Anarquista, de Miguel Sanches Neto. E vai além: "É o primeiro grande romance paranaense em toda a História". No livro, Sanches Neto – também colunista deste caderno – reconstrói como teria sido a ousada (e histórica) experiência anarquista da Colônia Santa Cecília. Pela obra, venceu o 2.º Prêmio Binacional das Artes e da Cultura Brasil – Argentina.

"Foi mesmo o melhor ano de minha carreira", diz Sanches Neto. Se sempre foi considerado um crítico que se "aventurava" na ficção, conseguiu mostrar a que veio neste ano. Na condição de leitor, indica a tradução de Fernando Koproski para Essa Loucura Roubada Que Não Desejo a Ninguém a Não Ser a Mim Mesmo Amém, antologia de poemas de Charles Bukowski, editada pela 7Letras, como um dos grandes fatos literários do ano. E há Cristóvão Tezza.

Se 2005 ganhasse um sobrenome, ele seria Tezza. Com O Fotógrafo (Rocco), ele venceu o Bravo! Prime de Cultura (livro do ano), a Academia Brasileira de Letras o apontou como o melhor romance produzido em 2004 (a honraria aconteceu em junho passado) e o Jabuti o colocou entre os finalistas ao prêmio – da mesma forma fez o Portugal Telecom.

Para Sanches Neto, a lógica da literatura é diferente da de outras modalidades culturais. Quanto menos repercussão suas obras tiverem, mais o escritor deve editar. Quando o reconhecimento acontece, o tempo para lançar um trabalho tende a aumentar. A prova de que isso não é regra atende pelo nome de Domingos Pellegrini, que, só neste ano (que ainda não acabou), editou quatro livros – inclusive Meninos no Poder (Record).

Os talentos do Paraná são muitos. Em 2005, Wilson Bueno estreou pela Planeta (Cachorros do Céu), a Companhia das Letras revelou Sabina Anzuategui (Calcinha no Varal), Josely Vianna Baptista traduziu Enrique Vila-Matas para a CosacNaify (Bartleby e Companhia) e Luci Collin lançou seu livro de contos pela Travessa dos Editores (Inescritos) – e traduziu Gary Snyder, mentor da geração beat, para a Azougue (Re-Habitar).

Já o futuro pode ser de Collin, Sandrini (prenome Paulo, autor de Códice d’Incríveis Objetos, a ser lançado pela Travessa), Machado (Carlos, Nós da Província: Diálogo com o Carbono, da 7Letras), Cremasco...

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