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O título que o novo filme de William Friedkin ganhou no Brasil, "Possuídos", tenta pegar carona no maior sucesso do diretor, "O Exorcista" (1973). Mas "Possuídos" passa muito longe do sobrenatural. O novo longa-metragem, que estréia na sexta-feira, é completamente psicológico, mais ligado à paranóia do que à possessão demoníaca.

O roteiro de "Possuídos" foi escrito pelo ator e dramaturgo Tracy Letts e não esconde suas origens teatrais. O diretor consegue tirar bom proveito disso, o que poderia ser uma limitação nas mãos de outro.

Praticamente o filme todo se passa dentro do quarto de um hotel de beira de estrada, onde poucos personagens mergulham num abismo assustador.

Ashley Judd ("De-Lovely - Vida e Amores de Cole Porter") poucas vezes teve um papel de tanto impacto. Ela é Agnes White, uma mulher solitária que vive presa em um trauma do passado, o desaparecimento de seu filho pequeno num supermercado, praticamente diante de seus olhos.

A instabilidade emocional da personagem torna-se mais profunda quando ela conhece Peter (Michael Shannon), um ex-soldado também cheio de problemas.

Depois de algum tempo com Agnes, Peter começa a falar de um inseto ("bug", que é o título original do filme), que alega ter sido colocado em seu corpo quando ele servia o Exército norte-americano no Oriente Médio.

Aos poucos, os dois personagens vão se entregando a uma paranóia na qual supostamente minúsculas e invisíveis criaturas vão consumindo seus corpos e suas mentes.

Apesar de secundário, o personagem do ex-marido de Agnes, Jerry Goss (Harry Connick Jr.), contribui para aumentar a tensão em suas visitas, adicionando um elemento agressivo e assustador.

"Possuídos" é um filme intenso e claustrofóbico. Apesar de limitado apenas ao quarto do hotel, o cenário modifica-se acompanhando a loucura dos personagens, até chegar a seu terceiro ato no auge da paranóia, todo recoberto de papel alumínio, parecendo mais uma instalação de arte.

O bom trabalho dos atores é igualmente essencial para este clima. Shannon participou da montagem da peça em Nova York e em Londres, e é geralmente ele quem dita o ritmo da ação.

Friedkin, depois de alguns filmes bem abaixo de seu potencial, como "Caçado" (2003) e "Regra do Jogo" (2000), volta ao nível de sua melhor fase na década de 1970, quando realizou trabalhos como "O Exorcista" e "Operação França" (1971).

Em "Possuídos", uma produção independente, o diretor está livre da pressão de grandes estúdios e encontra bons parceiros em Franco-Giacomo Carbone e Frank Zito, que assinam o desenho de produção.

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