Berlim - The Dust of Time, novo trabalho do diretor Theo Angelopoulos, autor de O Olhar de Ulisses, é o mais pessoal em muitos anos.
A produção exige muita atenção dos espectadores, mas traz a inconfundível assinatura do cineasta grego, e foi exibida fora de competição durante o Festival de Cinema de Berlim, que terminou ontem.
O filme é o segundo de sua trilogia sobre a Grécia, iniciada com o monumental Trilogy: The Weeping Meadow (2004).
Cobrindo mais de meio século e passado em três continentes, The Dust of Time é uma daquelas histórias de amor maior que a vida, uma saga de pessoas constantemente deslocadas na sua trajetória à procura de um lar.
Também em Berlim, o diretor falou com a imprensa sobre o filme e sua percepção muito pessoal a respeito do tempo.
Uma das peculiaridades da história é o fato de a atriz Irène Jacob, de 43 anos, interpretar a mãe de Willem Dafoe, de 54.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Qual a ideia de fazer a trilogia em forma de tragédia?
Theo Angelopoulos Sou grego e as tragédias fazem parte do meu universo. Mas o que quero contar aqui é, principalmente, uma história de amor e do destino dessa mulher. Como meus filmes anteriores, esse é também uma elegia ao destino e ao espírito humano.
O tempo é também um personagem em The Dust of Time?
Não apenas um personagem, mas um elemento básico. É uma história que trata o passado como se fosse o presente. Ao contrário da filosofia ocidental, que entende o passado e o presente como idéias separadas, no leste, o tempo é considerado uma coisa única.
Até que ponto então o filme envolve a Grécia contemporânea?
Nós, gregos, somos o passado e o presente ao mesmo tempo e isso envolve também a contemporaneidade. A história não é algo que aconteceu uma vez e, depois disso, foi perdida para sempre. Quando nós ignoramos o passado somos incapazes de compreender o presente.
O que motivou a escolha de Willem Dafoe e Irène Jacob para os papéis principais?
Eu conheci Dafoe num festival e ambos ficamos interessados em um dia trabalhar juntos. Ele tem um sorriso tímido que encanta e comunica. A escolha de um ator não é uma questão de estágios, um dia você conhece alguém e sente que pode ficar amigo dessa pessoa. Com Irène, foi diferente. Ela lembra uma mulher grega como eu queria. E eu também já conhecia seu ótimo trabalho pelos filmes que fez com Kieslowski.
O que tem mais peso no filme? Os fatos históricos ou a história de amor?
No filme, há a História escrita com letras maiúsculas e a história escrita com minúsculas. Em resumo, uma história de amor que talvez seja mais forte e maior do que a grande História.
Houve uma mudança nos fatos para criar uma leitura mais pessoal?
Sim. Houve um tempo em que imaginávamos que uma história pessoal poderia afetar o mundo. Achávamos então que éramos os sujeitos da história. Hoje, eu não sei dizer se somos sujeitos ou apenas objetos.