Há três meses, em entrevista no Projac da TV Globo, Cláudia Lage e João Ximenes Braga apresentaram a trama de Lado a Lado a alguns jornalistas. Na época, estavam nervosos. "Não vou te dizer que estou tranquilo. Animado com a estreia? Não. Estou é morrendo de medo", disse Ximenes.
Imagine então como deve estar a cabeça da dupla às vésperas do primeiro capítulo da nova trama das 18 horas, em sua estreia como autores titulares. Antes, Cláudia escreveu Páginas da Vida e Viver a Vida ao lado de Manoel Carlos; Ximenes fez parte das equipes de Paraíso Tropical e Insensato Coração, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Os dois ficaram amigos em 2004, quando cursaram a oficina de autores da Globo. A ideia para a novela veio alguns anos depois, de um jeito um tanto inusitado.
"Em meados de 2008, liguei para a Cláudia e perguntei: Você renova contrato por agora, não é? Está ganhando bem?. E ela me disse: Não, está uma droga. Eu respondi: Eu também. Você não tinha uma ideia? Também estou com ideias. Vamos fazer uma sinopse para ver se a gente mostra serviço e ganha um aumento?"
Depois dessa conversa, nasceu a história de Laura (Marjorie Estiano) e Isabel (Camila Pitanga), "mulheres à frente do seu tempo", como explicam eles, e protagonistas da trama ambientada em 1904.
"A gente adora essa época, especialmente por causa de João do Rio, Machado de Assis... Foi o que uniu a Cláudia e eu, a fascinação por esse período."
Os livros, de fato, os unem. Cláudia é formada em Literatura e Teatro e escreveu dois livros. Já Ximenes trabalhou como jornalista e tem quatro livros publicados. Para ele, é possível dizer que a semente de Lado a Lado foi plantada na adolescência, "quando flanava pelos sebos do centro (do Rio de Janeiro)". Cláudia também cita os livros como ponto de partida.
"A literatura apresentou a época da novela para a gente. Foi Lima Barreto que nos falou das mudanças feitas na cidade com o intuito de modernizá-la. Nas crônicas e nos romances, nos trouxe o olhar crítico sobre elas e o quanto essas mudanças sociais afetavam as pessoas."
E são os conflitos surgidos num período tão efervescente o que interessa aos autores.
"De certa forma, estamos falando de um Rio parecido com o da época, mas ele é fictício. Os eventos históricos surgem apenas quando geram conflitos nos nossos personagens. É uma novela de época, não uma minissérie histórica", pondera João.
De origens opostas, as protagonistas criam um vínculo que começa no dia dos casamentos das duas, que acontecem na mesma igreja. Por meio delas, os autores mostram tanto a decadência da aristocracia com a chegada da República, quanto o lado dos ex-escravos pouco depois de sua libertação. A cota vilanesca é preenchida por Constância (Patrícia Pillar), mãe de Laura, que não admite as posições modernas da filha. Mas, na hora de relacionar acontecimentos da época aos dias atuais e opinar sobre UPPs, favelas e obras, os dois admitem estar "vivendo em outro mundo".
"Juro que, fora o barulho das obras e a poeira, sou mais apta a falar sobre as modificações sociais do início do século 20. A gente acorda, dorme e sonha em 1904", diz Cláudia.
João faz coro: "Estou há dois anos submerso em universos ficcionais, emendei Insensato Coração com Lado a Lado. A ironia: tantos anos de jornalismo e virei a pessoa mais desinformada do planeta, não tenho mais opinião sobre nada".
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