Ao que tudo indica, há motivos para comemorar o Dia Internacional da Dança no Paraná, neste domingo.
Em 2006, o professor e pesquisador Giancarlo Martins recolheu informações para um mapeamento da situação da dança no Paraná, encomendado para compor a Base de Dados Rumos Dança Itaú Cultural. Ele visitou sete cidades (Curitiba, Londrina, Campo Mourão, Cascavel, Antonina, Guarapuava e Ponta Grossa) e teve boas surpresas.
Para ele, o propulsor do quadro atual da dança contemporânea em Curitiba foi a criação da Casa Hoffmann pela Fundação Cultural de Curitiba, em 2003, onde atua como coordenador. "As ações independentes ganharam mais visibilidade, o que desestabilizou o pensamento hierárquico e trouxe novas informações para a formação da dança. Antes, a primeira coisa que se vinha à mente quando se falava em dança era o Balé Guaíra", diz.
A companhia do Teatro Guaíra ainda ocupa espaço relevante no cenário da dança contemporânea. Com estrutura provida pelo governo estadual, sobrevive às dificuldades e apresenta uma produção regular. A dançarina Eleonora Greca, desde 1976 no corpo do teatro, conta que os diretores procuram estar em contato com a produção atual além das fronteiras paranaenses e promovem workshops que oferecem aos bailarinos a oportunidade de coreografar uns aos outros, o que incentiva a criação dentro da própria companhia.
Martins acredita que o surgimento de artistas independentes seja positivo. "As companhias subvencionadas são geridas sob a forma de uma hierarquia vertical e ficam ao sabor dos políticos", justifica. Para ele, uma alternativa seria buscar outras configurações, como as companhias privadas parcialmente subvencionadas.
"Hoje, os artistas da dança se agregam em outro design de companhia de dança", afirma. É o caso do coletivo Couve-Flor, formado por sete artistas independentes, a partir de encontros na Casa Hoffman. O ambiente de trocas favoreceu a criação da comunidade e, hoje, os membros do coletivo partilham afinidades éticas e estéticas em pesquisas individuais que se cruzam. A união de forças permite o aprofundamentos das pesquisas e dá ao grupo ares de mutirão, já que os artista apoiam-se mutuamente.
"A idéia de comunidades artísticas já foi plantada. Criamos o hábito de trocas entre os artistas também fora do Couve-Flor", comemora Elisabete Finger, integrante do coletivo. A artista aponta, na dança contemporânea, um intenso movimento rumo à independência. "São vários artistas criando independente das instituições e que têm recebido reconhecimento fora de Curitiba. Na Mostra Rumos de Dança, em São Paulo, as pessoas estavam muito interessadas no que acontece aqui", conta. De acordo com o pesquisador, o contato com artistas de fora estimula a efervescência da cena local. "Este artistas vão para fora, estudam e voltam para contaminar o ambiente da dança no estado", conta Martins.
A tendência à produção independente, segundo Elisabete, não se restringe a Curitiba e nem mesmo ao país. É, na verdade, resultado das políticas culturais em paralelo aos interesses pessoais dos artistas. "Há um questionamento, que vem da aproximação com as artes plásticas, que instiga as pessoas a partir para trabalhos independentes. Mudou o entendimento do que é ser intérprete, no sentido de escutar mais o que o bailarino tem a dizer e como ele constrói a coreografia. Isso abre campo para criações individuais", diz.
Ao mesmo tempo, a formação de companhias é prejudicada pela política cultural, que subvenciona projetos de, no máximo, um ano. Para Martins, "a Lei de Incentivo sozinha não dá conta da demanda e da necessidade da dança, até porque o apoio fica a critério dos departamentos de marketing das empresas que patrocinam os projetos". Ele defende a necessidade de verbas diretas para a manutenção da pesquisa continuada das companhias e elogia a iniciativa do poder público municipal de criar um edital específico para a dança. "Antes, concorríamos com o teatro, a ópera e o circo". Em instância estadual, o investimento é praticamente inexiste, constata o pesquisador. "O governo só apóia o Festival de Dança em Cascavel, de caráter competitivo e amador".
No interior, Martins mapeou duas companhias de destaque: o Balé de Londrina e a Verve Cia. de Dança, de Campo Mourão. A primeira, além de administrar uma escola e promover ações sociais, é organizadora da mostra de dança da cidade, de acordo com Martins, "com caráter não-competitivo, o que favorece a troca de informações e o aprimoramento".
Já a Verve nasceu em Curitiba, mas, pela dificuldade de obtenção de apoio financeiro, migrou para Campo Mourão, onde recebe auxílio da Fundação Cultural. A mudança impulsionou a criação da Lei Municipal de Incentivo à Cultura na cidade e incentivou outros grupos do interior a se aperfeiçoar. "É muito interessante a existência de pólos descentralizados de dança", opina o pesquisador.
Embora haja investimento em produção, para Martins, o estado ainda é carente de mecanismos para difusão e circulação das produções, como um maior número de mostras e festivais.
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