Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Paulinho da Viola olha pela janela do 40º andar da torre de um shopping carioca, QG da gravadora Sony&BMG, e avista o prédio da UFRJ, na esquina das avenidas Pasteur e Venceslau Braz, onde funcionou o Hospício Pedro II. Lembra que sua mãe, ainda com 15 anos, olhou para a construção e cismou que trabalharia ali. Entrou na sala do diretor com seus documentos e começou uma carreira de 40 anos trabalhando com saúde mental, inclusive na Colônia Juliano Moreira, com a doutora Nise da Silveira. "Fui saber disso outro dia. Fiquei pensando como conhecemos pouco sobre nossos pais...".

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Uma conversa com Paulinho é sempre assim, leve e profunda, divertida e introspectiva, seja em uma entrevista ou em gravações como a do DVD (e CD) acústico que está lançando pela MTV/Sony & BMG, e cujo ótimo making of começa com o sambista dizendo que não fala nada com uma câmera na frente dele.

- Depois que soube dessa história e que ela me contou que trabalhava durante sete dias, inclusive dormindo no emprego, e ia para casa passar apenas um dia de folga, é que passei a entender por que essa geração amava o Getúlio Vargas. Ela sentia-se em dívida com ele, que criou leis trabalhistas que acabaram com essa escravidão.

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Talvez por isso, inconscientemente, Paulinho tenha adquirido o hábito de trabalhar e produzir no seu tempo, não aceitando pressão e nem o estresse do mercado.

- Podem achar que é acomodação, mas não é, sigo minha intuição. Faço as coisas quando acho que é a hora.

E foi a intuição que fez o músico recusar três convites para voltar a gravar um disco de inéditas após mais de dez anos. O último foi "Bebadosamba", de 1996. No ano seguinte gravou "Bebadachama", ao vivo; em 1999, "Sinal aberto", com Toquinho; e, em 2003 "Meu tempo é hoje", com a trilha do filme homônimo. Até que surgiu a idéia do projeto acústico.

- Eu quase fechei com uma gravadora há uns anos. Já tinha um repertório pronto. Mas fui adiando. Só ouvia companheiros reclamar da indústria, da pirataria. Resolvi esperar a poeira baixar. Então pintou o disco da trilha do filme. Não queria fazer, mas a turma me sensibilizou. Há alguns meses fiz um show no teatro Fecap, em São Paulo, e, no fim, o (produtor) Homero Ferreira me deu todo o material gravado. Pensei em usar as gravações, que são ótimas... Até que apareceu a MTV.

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