Paulo Coelho concluiu sua viagem de 9.288 quilômetros pela Sibéria a bordo do trem Transiberiano com uma homenagem ao autor de "Arquipélago Gulag", Alexander Solzhenitsyn.

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- Graças a seu talento, Solzhenitsyn conseguiu mostrar ao mundo os horrores e as desventuras que marcaram as vidas dos presos dos campos de trabalho soviéticos - disse o escritor, que já teve seus livros vendidos em 160 países e traduzidos a 60 idiomas.

Paulo Coelho (nascido no Rio de Janeiro, em 1947), chegou na terça-feira a Vladivostok, capital do Extremo Oriente russo, no fim de uma viagem que começou no dia 15 de maio, em Moscou. O autor percorreu o mesmo caminho de Solzhenitsyn, prêmio Nobel de Literatura em 1970, que depois de um exílio de 29 anos decidiu voltar com sua família à Rússia saindo de Vladivostok a bordo do Transiberiano para entrar em contato com o povo do país.

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- Sempre associei a Sibéria a um cárcere. Sempre pensei que a Sibéria era só frio e mistério, mas também há casais que se beijam na rua e telefones celulares - disse.

O autor lembrou ainda o 32º aniversário de sua prisão pela ditadura brasileira, em 1974, período no qual Coelho foi um ativo dissidente.

- Espero que esses tempos terríveis relatados por Solzhenitsyn não voltem jamais. Atualmente, a Rússia é um grande país, livre e democrático. Longa vida à Rússia - declarou.

Assim como o dissidente russo, Coelho entrou no coração da Sibéria e desceu do trem para se encontrar com seus leitores em Yekaterimburgo (Urais), Novosibirsk, Irkutsk y Jabarovsk, além de ter passado dois dias descansando no lago Baikal e de ter percorrido de barco o rio Amur, fronteira natural entre a Rússia e a China.

Coelho, que havia tentado, em vão, percorrer a Transiberiana em 1982, criou um link em seu site (http://www.paulocoelho.com) para que os leitores pudessem acompanhá-lo em sua viagem pela Sibéria.

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- Depois da morte, o sábio continua vivo ainda que seu corpo tenha sido reduzido a cinzas. Mas o ignorante, embora vivo, já está morto - disse o autor, parafraseando um provérbio siberiano.

O escritor anunciou ainda os planos de fazer um documentário sobre sua viagem a bordo do Transiberiano e disse que aproveitou o périplo para revisar seu novo livro, que "será lançando em dezembro na América Latina, e em maio de 2007 na Europa e na Ásia". Mas apesar de ter um vagão só para ele, Paulo Coelho quase não teve tempo para ler "devido à ausência de um bom sistema de amortizadores" no trem.

- Passei todo meu tempo olhando pela janela, pensando e fazendo anotações. De todas as poderosas armas de destruição que o homem foi capaz de inventar, a mais terrível e covarde é a palavra - destacou.

O escritor também relatou algumas das experiências que viveu no Transiberiano, como quando uma senhora idosa lhe mostrou uma oração escrita por um judeu que morreu no Gulag.

"Senhor, quando estiver em sua glória, não se lembre só dos homens de boa vontade, mas também dos de má vontade. Permita então que nossos frutos possam servir para salvar as almas dos homens de má vontade", dizia a oração.

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Paulo Coelho tinha anunciado no último dia 29 de março sua intenção de viajar no Transiberiano para manter o sentido da peregrinação que obteve no Caminho de Santiago, em 1986, que inspirou seu primeiro romance: "Diário de um mago".

Coelho, que tem o costume de publicar um novo livro a cada dois anos, viajará para a Ásia depois de descansar alguns dias em Vladivostok.

- Não há meta, só caminho - ressaltou.