O jornal 'The New York Times' publicou nesta terça-feira uma entrevista com o escritor Paulo Coelho. Ele lança o seu mais recente livro, "O Zahir", nos Estados Unidos em setembro, esperando alcançar as primeiras posições da lista de mais vendidos naquele país, feito que só conseguiu no mercado americano com o "O Alquimista".
- Não sou nos Estados Unidos o que sou na França ou na Espanha ou na Alemanha. Nunca quebrei a barreira da imprensa. Nos Estados Unidos, sou um grande êxito, mas não uma celebridade - disse ele ao 'The New York Times'.
Na França, "O Zahir" atingiu recentemente a marca dos 320 mil exemplares vendidos.
Apesar de sua fama mundial, Coelho não vive a vida de uma celebridade. Segundo a reportagem, ele passa a metade do ano no Rio de Janeiro, sua cidade natal, mas é na pequena cidade de Saint Martin, na França, onde se sente o mais à vontade. Quando não está escrevendo, ele apara a grama, pratica arco e flecha, lê e se mantém em contato com o mundo através dos meios eletrônicos. Ele não foi atraído simplesmente pelo apelo bucólico da França rural, mas sim pelo fato de Saint Martin ficar a apenas 16 quilômetros do santuário de Nossa Senhora de Lourdes.
Não que Coelho seja um escritor católico romano fervoroso. De fato, pelos seus retratos mais de pesquisas espirituais genéricas e viagens interiores, muitos dos seus livros falaram a leitores em países com culturas e crenças tão diferentes como o Egito e o Israel, a Índia e o Japão. A sua explicação?
- Sei que temos as mesmas perguntas, mas não temos as mesmas respostas - explicou.
Depois de uma adolescência rebelde e de ter sido preso três vezes pela ditadura militar, aos 36 anos Coelho decidiu percorrer o caminho dos peregrinos medievais em Santiago de Compostela, no noroeste da Espanha. Isto resultou no seu primeiro livro, "A peregrinação", que, apesar de não ser muito reconhecido, o motivou não só a se dedicar à escrita mas também a perseguir a sua busca por alguma coisa que desse significado à sua vida. O seu segundo livro, "O Alquimista," também vendeu lentamente até que se tornasse um best-seller na França no início dos anos 90, ganhando o mundo logo em seguida.
Mesmo agora, entretanto, Coelho diz que a sua busca continua:
- Cada livro é um pouco mais sobre mim. O que me surpreende é quando me chamam um escritor espiritual. Para mim, a busca da felicidade é uma mentira, como se houvesse um momento em que tudo se modifica, quando você fica sábio. Acredito que a iluminação ou a revelação acontece no dia-a-dia. Busco a alegria, a paz da ação. Eu teria parado de escrever há anos se meu objetivo fosse só ganhar dinheiro.
Em "O Zahir", Coelho escreveu sobre um escritor porque, segundo ele, é sobre que conhece. Como Coelho, o escritor que protagoniza o livro é também imensamente próspero, os seus livros os best-sellers globais que, como os próprios livros de Coelho, são ocasionalmente mal recebidos pelos críticos literários, apesar de caírem no gosto do público. A história, no entanto, não é a dele.
Na narrativa, a esposa do escritor, a jornalista Esther, se torna uma correspondente de guerra e logo desaparece misteriosamente. Conseqüentemente, ele encontra um homem jovem místico do Cazaquistão chamado Mikhail, que parece saber o paradeiro de Esther mas insiste que o escritor deve saber se realmente tem esperança em reencontrá-la. E depois de uma série de aventuras, o escritor dirige-se ao Cazaquistão.
- Há muito de mim nele, mas o personagem é mais egoísta. Também sou egoísta, mas não do mesmo modo do personagem. Ele é próspero, tem tudo, mas sua esposa o abandonou. O valor mais importante - o amor - está faltando. O que está errado com esta instituição chamada casamento? Qual é o problema com a instituição chamada 'a busca da felicidade? - disse.
Como aconteceu com outros de seus livros, "O Zahir" dividiu a opinião dos críticos. Os comentários mais ácidos são daqueles que acreditam que o escritor se faz passar por um guru, posição que ele rejeita:
- Nunca digo que sou guru. Essa pessoa não existe. Os leitores só querem saber se tenho a mesma dúvida que eles têm. Mas se eu desse uma resposta, eles logo veriam que seria falsa. Muitos leitores me mandam e-mails dizendo que as suas vidas mudaram. Mas não fui eu quem as modifiquei. Tudo já estava pronto. Possivelmente, o livro os modificou.
Quanto a críticas negativas, ele diz que não se deixa abalar.
- Ninguém vai modificar o modo como escrevo. Borges disse que há só quatro histórias para contar: uma história de amor entre duas pessoas, uma história de amor entre três pessoas, a luta pelo poder e a viagem. Todos nós escritores reescrevemos essas mesmas histórias infinitamente. Mas uma coisa que não posso suportar: quando criticam o meu leitor. O leitor é mudo. Você pode falar mal de mim, dos meus livros, mas você não pode falar mal do leitor.