Opinião
Amagoa reinventa a artista que hoje une técnica à intensidade
A artista promissora de traço criativo e divertido que assinava seus retratos como Fernanda Faria não existe mais. Ficou em alguma esquina de Manhattan. Ali incorporou o nome de guerra e o apelido superlativo: Fernanda Pavão é uma mulher artista que hoje sabe o terreno em que está pisando.
Sua obra em progresso, amagoa é o corpo de delito.
Usando o próprio corpo como instrumento, nu e deserotizado, sua performance é dança, balé, religioso. Também é intervenção premeditada, em que a intuição apita menos do que parece.
No caldeirão das referências, entra o bodypainting de Yves Klein, a loucura e a beleza de Denise Roman, a espiritualidade afro-brasileira. E, principalmente, a influência das "tiazinhas da performance" Yoko Ono, Abramovic e Orlan, com que teve a sorte de conviver.
Entre o visceral e a técnica, a intensidade vem destas informações, da energia agora focada apenas na arte.
Até agora, ela usou cores para expressar as diferentes temperaturas de sua amagoa. Amarelo, laranja. Depois vermelho e violeta em telas de curvim. Ainda com preto, "a lama que nos espera".
Já em lona de tela, o verde de seu orixá e o azul. "Eu já estou no momento do perdão ", explica.
Destaque para o fotografo Eleuthério Netto e para Felipe Follador e Pedro Pontoni, da produtora Bubble, que editam os vídeos impressionantes da performance.
O trabalho chamou a atenção de alguns galeristas antenados e da curadoria da Bienal do Mercosul, cuja próxima edição terá performance como tema. (SM)
"Aqui é como na gira. Cinco minutos antes, já estou na pilha. Vamos começar de uma vez", decide Fernanda Pavão. Depois de aumentar o volume do som, a artista tira a roupa.
VÍDEO: Assita ao vídeo da primeira sessão de pintura de amagoa de Fernanda Pavão
E se entrega à quarta sessão última do ano, realizada numa tarde da semana retrasada do trabalho que produz desde junho, quando voltou à capital paranaense após uma temporada de três anos em Nova York.
Intitulada amagoa a obra é uma união audaciosa de performance, pintura com o corpo e multimídia. Um diário pessoal e artístico.
"São 34 anos de mágoa, de coisas que eu posso trazer para aquele momento ali", aponta o chão e as paredes cobertas de lona preta do ateliê na sala ampla do apartamento de último andar, no Bigorrilho.
No centro do espaço, Pavão estica uma tela de aproximadamente 15 metros quadrados e dispõe, com estratégia e intuição, os baldes e bacias com diferentes densidades de "tinta guache y outras cositas más".
Usando o instrumento em que transformou o próprio corpo, nua ela desliza e dança sobre a tela. Golpeia-a, às vezes, se enrola e se deixa parar sobre a tela.
Usar o corpo foi uma decisão que Pavão põe na conta do amadurecimento, da artista e da mulher. Algo que percebeu quando voltou a Curitiba.
Depois de três anos e meio estudando arte e tecnologia na Parsons The New School for Design, e trabalhando no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) onde conheceu artistas como Marina Abramovic e Yoko Ono, Pavão precisou voltar e ficar.
Veio o convite para dar aulas no Centro Europeu. Faltava achar a direção na encruzilhada da arte. "Resolvi pegar a estrada que sou eu mesma. Se eu vou ser objeto, que seja o meu próprio objeto e de mais ninguém", resolveu.
Ela diz que não despreza as formas tradicionais de pintura. Adora a cor. "Ali estão; a luz, a escala tonal. A linha me interessa também. Mas entre a linha e a cor, no meu mundo hoje, só um desenho é muito pouco", avalia.
Para ela, era tempo de eliminar os intermediários. "Sempre tive um o pincel a espátula, a paleta de cores. Agora eu não quero mais alguma coisa entre eu e o objeto, eu e a tela, entre eu e você, entre eu e eu mesma", teoriza, em seu expansivo estilo de se expressar.
Toda a performance é registrada em vídeo e foto digital e polaroide. O resultado, ainda parcial, é um impressionante conjunto multimídia
Nas telas já finalizadas, após um longo processo de maturação e secagem, a gramatura das cores entre o espesso e o fluido são cortes e cicatrizes. Manchas de sangue e cores de paixão, ressentimento e perdão. Para seus amores, arte e aldeia.
Nos vídeos e fotos já editados vê-se com mais clareza a amplitude do trabalho: do vigoroso ao delicado, do intuitivo à técnica sofisticada.
"Não tem mais subterfúgio. Amadurecer é ter autocontrole, autoconsciência, auto várias coisas. Sublimo e não trago os bichos para a rua, para as minhas relações", diz, a respeito do momento pessoal.
Pavão sabe, no entanto, o que terá de fazer para terminar amagoa. "Eu trago os meus bichos para cá Entro no meu f* inner self, lá dentro mesmo. E depois, eu abro tudo o que tenho" confessa.
CADERNO G | 1:48
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