Teatro
Confira informações desta e de outras peças no Guia da Gazeta do Povo.
"Não sou só essa presença confusa que uiva sua crise pessoal", diz um dos personagens de Cristiano O Cão Louco, que estreia hoje no Espaço do Grupo Obragem.
A frase dá uma ideia do tom da peça, que se assemelha a uma "denúncia lírica" por Olga Nenevê e interpretada com muito vigor por Eduardo Giacomini e Leandro Daniel Colombo (ator da Cia. Vigor Mortis, protagonista de Nervo Craniano Zero e que estará na minissérie A Teia, da Rede Globo, a partir de junho).
O coletivo Obragem retoma aqui o tema da violência, já abordado em Zaqueu (2010). No texto e na encenação, o espectador poderá captar referências diversas, e lê-las de acordo com a própria experiência.
Uma delas é o da opressão. Do começo ao fim, os atores disputam o poder, alternando-se no papel de vítima e de algoz. "Fala um pouco de zona de conforto. Quando uma pessoa se posiciona como algoz, a outra assume o da vítima e vice-versa", interpretou o sonoplasta Vadeco, na entrevista que a equipe concedeu à Gazeta do Povo.
Outra recorrência do espetáculo é a animalidade, em momentos em que os atores se debruçam sobre a tarefa de incorporar o que há de desumano em nosso comportamento. "É mais difícil ser humano do que bicho", pondera Eduardo.
Na primeira vez em que trabalhou com o Obragem, em 2001, Leandro aprovou o uso da fisicalidade na atuação. Isso, somado às experiências trazidas pela profunda pesquisa buscada pelo grupo, o faz considerar estar fazendo "a Fórmula 1 do teatro", numa comparação em que as montagens mais comerciais seriam os veículos convencionais.
Vale assistir com uma dica na cabeça: a história foi levemente inspirada no assassinato de açougueiro, do qual o italiano Cesare Battisti é acusado [Battisti foi condenado na Itália acusado de quatro homicídios, mas ganhou a chance de viver em liberdade no Brasil]. A agonia da prisão, na sequência, reforça a alusão ao caso.
Aberta
Considerada uma obra aberta, por facilitar a leitura que o espectador quiser, Cristiano O Cão Louco permite ainda questionar o que representam os dois personagens em cena. Seriam as duas faces de uma mesma pessoa?
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