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Brecht: discussão sobre morrer ou matar por uma crença | Divulgação
Brecht: discussão sobre morrer ou matar por uma crença| Foto: Divulgação
  • Bíblia foi encenada em uma igreja, como teatro épico
  • Johanna Schall, neta de Brecht e diretora da montagem

Mais de meio século após sua morte, uma peça inédita do famoso dramaturgo alemão Berthold Brecht (1898-1956) foi mostrada ao público pela primeira vez, no Festival Brecht de Augsburg, na semana passada, em uma encenação dirigida por sua neta Johanna Schall. Brecht escreveu a peça, Die Bibel (A Bíblia), quando tinha apenas 15 anos.

O texto foi publicado no jornal escolar Die Ernte (A Colheita), do Ginásio de Augsburg, onde ele usava o nome de Bertolt Eugen (seu nome completo era Eugen Berthold Friedrich Brecht), mas caiu no esquecimento. Mais tarde, já famoso, em Berlim, o autor não quis levar a peça ao palco, provavelmente por se tratar de mais um melodrama.

Johanna Schall, de 54 anos, herdeira de Barbara Brecht-Schall, filha de Brecht com sua segunda esposa, Helene Weigel, não sabe como uma peça do avô permaneceu inédita por tanto tempo.

"Para um diretor, é uma chance extraordinária", diz Johanna, que nasceu dois anos após a morte do avô.

A Bíblia recebeu ótimas críticas. "Mesmo adolescente, Brecht já enfocava os conflitos que mais tarde seriam explorados nas suas grandes obras, como A Mãe e Mãe Coragem", escreveu o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Johanna Schall encenou a obra como teatro épico. A peça tem apenas um ato e três cenas. E já mostra o estilo inconfundível de confrontação com a realidade de Brecht. Aos 15 anos, ele já se preocupava com a questão sobre se seria certo morrer ou matar por uma crença.

Trama

A história se passa numa cidade holandesa protestante cercada por católicos, onde um avô vive lendo a Bíblia para a neta. No fim, há a chance de salvar a cidade e seus habitantes a partir da conversão ao catolicismo, mas o avô prefere morrer, com todo mundo, a abdicar de sua convicção.

Na peça, um manuscrito de sete páginas que pode ser desenvolvido pelo diretor porque muito fica em aberto, como lembra Johanna, Brecht ainda vê o papel passivo da mulher: outra condição para poupar a cidade é a entrega da moça ao comandante inimigo.

"Brecht quer descrever o papel tradicional de sacrifício da mulher. Mas sua abordagem mostra como houve um longo caminho até Mãe Coragem", assinala a diretora da peça, encenada numa igreja de Augsburg (Barfüsserkirche).

O conflito entre católicos e protestantes reflete também a biografia do autor, filho de mãe protestante e pai católico, dividido entre as duas religiões.

Para Joachim Lang, diretor do Festival Brecht, "quem conhece o dramaturgo em Augsburg entende melhor sua obra". A cidade, no sul da Alemanha, sempre teve uma relação ambígua com Brecht. De um lado, havia o reconhecimento de um dos autores mais encenados no mundo. De outro, um clima de resistência para com um intelectual que não só escolheu a Alemanha comunista para viver como colocou seu trabalho a serviço da ideologia comunista.

Em seu quarto ano, o Festival Brecht, que celebrou o aniversário do autor em 10 de fevereiro, reuniu peças, concertos e mostras de manuscritos e objetos do dramaturgo, que já cedo reconhecia seu talento.

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