Rosana (à esq.) e Ludmila seguram peça com ótimas atuações| Foto: Chico Nogueira/Divulgação

Programe-se

A Máquina Infernal

Guairinha (R. XV de Novembro, s/nº), (41) 3304-7900. Com a Gran Companhia D’Arte Dramática. Hoje, às 20 horas, última apresentação. R$ 15 e R$ 7,50 (meia-entrada), mais R$ 6 (taxa administrativa). Classificação indicativa: 12 anos. Assinantes da Gazeta do Povo têm 50% de desconto na compra de até dois ingressos por titular.

CARREGANDO :)

Qualquer remontagem de um clássico traz consigo uma aura de importância, e esta Máquina Infernal, baseada na releitura de Jean Cocteau (1934) e que faz hoje a última sessão no Guairinha, não é exceção. A montagem de Roberto Innocente, que assina texto, direção e um amplo e detalhado cenário, traz consigo a pretensão da profundidade trágica. Um objetivo que é alcançado sobretudo na atuação de Rosana Stavis, que abre o espetáculo com sua incrível presença cantando em grego a plenos pulmões.

Ela e Gerson Delliano fazem as vezes de narradores, trazendo junto o espírito de previsão nefasta quando bradam "Ouve, espectador!".

Publicidade

Mas há outra dimensão em A Máquina Infernal, que é a do cômico. O texto de Cocteau, condensado por Innocente, mistura gêneros, incluindo o surrealismo que lhe é particular. Guardas fazem a vigília sobre as muralhas de Tebas quando o fantasma de Laio, morto pelo filho Édipo, lhes aparece. A evocação do início de Hamlet, que vê o fantasma do pai assassinado, deixa claro ao espectador que ele está vendo uma releitura.

Em meio à conversa típica de chefe e subalterno dos militares, surgem Jocasta (Ludmila Nascarella) e Tirésias (Rosana Stavis) no que poderia ser a relação de Julieta com sua aia. O cego profeta vira "Zizi", e a rainha em luto ganha cores sensuais e burlescas: o cachecol insiste em querer enforcá-la.

A múltipla personalidade de Jocasta ressurge quando, passada a cerimônia de casamento com Édipo, os dois se encontram no leito real, quase adormecidos. Num abraço em que ela tira as roupas molhadas do filho-esposo dizendo que aquilo pode deixá-lo doente, ele deita a cabeça em seu peito e murmura "sim, mamãe", numa atrevida injeção de humor em meio à tragédia.

O Édipo da montagem é pautado num jovem ambicioso e de raciocínio lento, o que impede que assuma o papel original de herói em busca de conhecimento. O final da peça – único trecho que se passa no presente, no original grego – acaba atropelando a importante e lenta revelação da verdade e tomada de consciência do protagonista. Para salientar o trágico, a sonoplastia e a luz gritam para buscar aquilo que a interpretação e a pressa não permitem entregar.

Enquanto isso, no cenário, a roda da vida, máquina infernal ou fantoche do destino é muito bem representada por pêndulos e engrenagens – que só faltam girar.

Publicidade