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Rômulo em cena: metateatro “convida” espectador | Fernanda Bona/Divulgação
Rômulo em cena: metateatro “convida” espectador| Foto: Fernanda Bona/Divulgação

Teatro

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Dois polos, um de atração e um de repulsão, operam sobre o espectador convidado a assistir a C.Â.N.C.E.R.. Não é fácil decidir ter contato com um espetáculo cujo título nos lembra de tudo que é ruim, do inesperado e indesejado. Por outro lado, a oferta é boa: premiada com o edital Myriam Muniz de 2009, a peça tem entrada gratuita, duas sessões de curta duração nas noites de segunda a quinta-feira (26 a 29), e, o que é melhor, num shopping. Todo o conforto necessário para compensar a lembrança do mal.

Vamos a ele: o texto descreve com pormenores os últimos momentos de um homem que falece vítima do câncer. Em cena, o filho que volta do funeral , tenta elaborar para si mesmo a perda e filosofa sobre a memória do pai. O que permanecerá dele? O ator Rômulo Zanotto faz o monólogo e também é autor da peça.

Há momentos líricos daqueles que fazem repetir a frase na cabeça e ter vontade de anotar. Também há daqueles que fazem torcer a boca e desejar que acabe logo, como quando o texto decide perscrutar a intimidade de órgãos sendo consumidos, expulsando a alma do corpo. As referências estão lá e isso é ótimo, já que ninguém cria sobre tábula rasa. O Hamlet de Shakespeare, Clarice Lispector ("viver não é vivível"), Kafka.

A encenação coloca o ator para contracenar com belos vídeos retratando um senhor de idade (José Castro), uma cadeira e um chapéu. Há efeitos visuais e sonoros, o uso de áudio gravado e de um microfone, que conferem um tom pop e aliviam em muito o peso do difícil tema. Na direção, Tiago Luz traz um pouco da ousadia de seu mestre Edson Bueno no grupo Delírio (Satyricon Delírio e Minha Vontade de Ser Bicho).

Sem ilusão

Talvez o que mais convença o espectador a esquecer o medo da morte e embarcar na cena seja o recurso ao metateatro.

Logo no início do espetáculo, o personagem se dirige à plateia, quase na beira do palco, e fala sobre o fato de estar interpretando. Imediatamente surge a coceira de saber: será ficção ou realidade? Será que o ator e autor passou pela experiência da qual fala no texto?

Essa quebra na ilusão teatral acaba nos tornando cúmplices do que está acontecendo ali. Ainda mais quando, novamente próximo da beirada, ele pergunta a Deus quem é que teve essa ideia de louco, a morte, que atinge diretores, atores, técnicos e plateia.

Na atuação, Zanotto convence pela segurança e manutenção do tom homogêneo na maior parte do tempo. As exceções são o início e o final, quando a movimentação de corpo tende ao artificioso e o vídeo fica excessivamente centrado na imagem do ator.

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