As responsáveis pelo setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Mariane Torres e Patrícia Wöhlke, não demoram em responder à pergunta que todo mundo faz, em se tratando da Casa Kozák. Qual o segredo dessa biblioteca? A resposta é “Florência”. As profissionais que hoje coordenam as 13 Casas de Leitura do município creditam boa parte da fama do espaço de leitura à ação de Florência da Rocha Santos, profissional hoje aposentada da FCC.
Foram 19 anos de “Kozák”, tempo em que a agente, boa parte em parceria com Everson de Paula – que inclusive filmava as atividades –, conseguiu chegar à marca de até 400 visitantes por dia. “Eu sabia que não ia conseguir sair no horário”, diz ela. Era conhecida como Flor, apelido que pegou por causa de um cartaz. Incomodada com os que tomavam por professora, escreveu atrás da mesa que precisando algo, não a chamassem de “tia” ou de “dona”, mas de “Flor”.
Assim ficou conhecida a mulher que, em especial na era pré-internet, ajudava o povo da Vila São Paulo e adjacências e realizar tarefas escolares. A casa com sótão, cerca de madeira e quase 700 metros de jardim se encarregou do resto. “Era um ponto de encontro, bem espontâneo”, lembra Florência, 58 anos, um “sujeito leitor” digno de observação.
Há lugar para o modelo Casa Kozák?
Houve um tempo, em Curitiba, que sinônimo de biblioteca de rua atendiam pelo nome de “Kozák”, “Franco Giglio”, “Cervantes” e “Nair de Macedo”. Funcionavam casas antigas e estavam ao alcance da vizinhança, sem fricotes.
Leia a matéria completaFlor teve uma relação difícil com a escola. Adulta, trabalhava com serviços gerais na prefeitura. Apoiada pelos colegas de trabalho, voltou a estudar e chegou ao posto de agente cultural – na “Kozák”. Embora tenha promovido até lá a migração de oficineiros – como Joba Tridente, do antigo jornal Nicolau – e palestrantes como Fernando Severo, autor de um documentário sobre Kozák, sua atuação era sobretudo na linha de manter a biblioteca em “estado de animação”. Seu método? “O intuitivo”, responde, sem mais. “Vinagre não atrai abelha. Tinha de atender as pessoas bem para que elas voltassem, só isso. Eu era fácil”, resume a agente, dando um aperitivo sobre o clima festivo que reinava na biblioteca.
Quanto a possivelmente ter mudado o destino de muita gente, pela leitura, diz não saber – embora acredite, por experiência própria, que acontece. O que pode dizer é que onde quer que vá escuta um “oi Flor”. O cumprimento vem de gente para quem arrumou livros, recortes de jornal, oficinas. De gente que lhe perguntou quem era “Kozák”. Mantinha uma pasta de recortes sobre o viajante. Aprendeu a gostar dele. E teve certeza que estava certa no dia que quatro índios xetás apareceram na casa para uma visita. “Um deles passava a mão na parede, vai ver que em busca do espírito do indigenista”, conta. Foi dos dias mais incríveis dentre os milhares passados ali.
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