Para o grande público, Chico César é sinônimo de uma figura exótica, que apareceu e desapareceu ao som de "Mama África". Nada disso. Artista multifacetado e pensador independente, o paraibano de 41 anos conseguiu, entre outros feitos, a façanha de cavar seu próprio espaço no meio musical. A passagem pelos holofotes da mídia, em meados da década de 90, foi apenas mais um passo de sua trajetória fonográfica, que em 2005 completa dez anos.

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Para marcar a efeméride, o cantor e compositor acaba de lançar De Uns Tempos pra Cá, seu primeiro CD pela gravadora carioca Biscoito Fino. Trata-se, no entanto, de uma comemoração diferente, avessa aos esquemas tradicionais. "Poderia gravar as ‘dez mais’ da minha carreira e incluir duas músicas novas, como todo mundo faz. Ou então convidar as intérpretes maravilhosas que já cantaram minhas composições. Mas preferi celebrar minha independência artística", diz.

O resultado da empreitada é um apanhado de canções de amor escritas desde os anos 80, porém nunca registradas pelo artista. Há também versões, como a do clássico "Cálice" (Gilberto Gil e Chico Buarque) e de "A Nível De" (João Bosco e Aldir Blanc). Em todas elas, Chico é acompanhado pelo Quinteto da Paraíba, conjunto de cordas que confere uma atmosfera camerística ao álbum.

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"É um disco contemplativo, mas não necessariamente triste. Quando você entra no âmago das relação afetivas, existenciais, vê que nem tudo é alegre", reflete. Para Chico, as pessoas estão acostumadas com uma alegria "epidérmica", facilmente encontrada em shows de rock, micaretas, rodeios, raves. "Esse tipo de alegria não me interessa. O disco traz, sim, uma alegria final. Como se você encontrasse o êxtase após uma longa noite", explica, referindo-se a "Orangotanga", última – e mais dançante – faixa do CD.

Confortável na posição de quem tem uma audiência fiel e não depende dos modismos da indústria, o paraibano não se incomoda com o fato de ser lembrado como o personagem extravagante descrito no início do texto. "O mais bacana é poder entrar e sair das estruturas. Principalmente se você entra na hiperestrutura, que é o imaginário popular. Ser reconhecido por uma canção com a musculatura de ‘Mama África’ é maravilhoso", explica. Por trás do exotismo, há a lucidez.