Após um período de Ecletismo que durou várias décadas, a cidade de Curitiba assistiu admirada ao surgimento de uma estranha edificação no início da Avenida Jaime Reis. Corria o ano de 1929, e não poderia ser diferente: o proprietário e construtor, Frederico Kirchgassner, trazia idéias assimiladas em seus estudos de Arquitetura feitos na Alemanha. Era a modernidade para a qual a província não estava preparada. Seria mais correto dizer que o Brasil não estava preparado, tendo em consideração as reações dos paulistas à Semana de Arte Moderna de 1922 e mesmo à casa de Gregori Warchavchic, menos moderna do que a curitibana, no ano anterior.
A casa do arquiteto, conquanto fazendo uso de estéticas, materiais e conceitos modernistas, apresentava características remanescentes do art-déco, que iria dominar toda a década seguinte, estendendo-se até a Segunda Guerra Mundial. O estilo está presente na maior parte das construções governamentais e residenciais do período Manoel Ribas, incluindo os grandes edifícios que começavam a surgir nas praças centrais da cidade.
O art-déco já era quase o modernismo, ao preconizar estéticas referenciadas à industrialização e à tecnologia contemporâneas: formas que sugerem o movimento regular das máquinas e materiais processados por essas.
No final dos anos 40, o governo do Paraná empreende a construção do Centro Cívico Estadual: complexo administrativo já previsto no Plano Agache, de poucos anos antes. O arquiteto curitibano David Xavier de Azambuja projeta o Palácio Iguaçu. Outros profissionais todos de opção modernista , as demais edificações que, dentro e fora do conjunto do Centro Cívico, atestarão a modernidade e a riqueza cafeeira do estado que completa um século de vida autônoma.
Embora não concluído para o Centenário, o conjunto permanece como a grande demonstração de modernidade arquitetônica e urbanística brasileira, só vindo a ser superado com a construção de Brasília. Atualmente, o Centro Cívico é um grande mostruário das tendências ocorridas dentro do Modernismo brasileiro.
A prática de resgatar profissionais curitibanos como Azambuja exercendo a profissão de arquiteto em São Paulo e Rio, dado o desconhecimento da profissão na cidade, acontece na década de 50, a par da contratação de profissionais para projetar em Curitiba e no Paraná. Demonstra que o ambiente cultural já estava preparado para o ingresso do Modernismo nas construções. Em 1962, a Universidade Federal do Paraná cria o Curso de Arquitetura e Urbanismo, vinculado à sua prestigiosa Escola de Engenharia.
Os arquitetos locais e os "importados" para compor o corpo docente de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro eram todos modernistas natos e, desde seus inícios, o que se ensinou e praticou foi a Arquitetura Moderna. E, nas voltas que o mundo dá, o que esses professores trouxeram foi uma estética desenvolvida em grande parte por um curitibano, João Batista Vilanova Artigas, em São Paulo.
Decorre do entusiasmo da primeira geração de profissionais e estudantes o que é conhecido como "fase dos concursos" talvez a maior afirmação já produzida no Brasil por um grupo de arquitetos, com cerca de oitenta premiações nacionais.
A partir dos anos oitenta, alguns apressadinhos, no Brasil como em outros países, decretam a falência do Modernismo na Arquitetura. Embora houvesse efetivamente um cansaço das décadas de prática do que já foi considerado " o último estilo da História da Arte", nada havia com suficiente consistência para substituí-lo somente formulações muito vagas e imaturas. Daí a fase atual inexpressiva e perdida, para usar de condescendência.
No entanto, é preciso pensar que a Arquitetura não se faz por si só, desvinculada de idéias e acontecimentos. O que se produz hoje é o retrato perfeito de nossos tempos neoliberais: voltado para modismos e mecanismos de mercado, obsolescência programada para curto prazo.
Arquiteto, mestre em História do Brasil, doutor em História das Idéias. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR.
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