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“Tem que sacar o perfil do cliente. Vamos conversando, conhecendo as pessoas e perguntando do que elas gostam. Aí consigo definir um padrão e sugerir algo.” - Manoel Martins, bibliotecário. | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
“Tem que sacar o perfil do cliente. Vamos conversando, conhecendo as pessoas e perguntando do que elas gostam. Aí consigo definir um padrão e sugerir algo.” - Manoel Martins, bibliotecário.| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Os queridinhos

Livros para públicos diversos, mas que marcaram o bibliotecário, são mais indicados do que outros. Veja os preferidos de Manoel Martins:

Dinheiro Queimado, de Ricardo Piglia (Companhia das Letras)

"É um livro policial, bem dinâmico, de um autor argentino contemporâneo."

Os Filhos de Húrin, de J. R. R. Tolkien (WMF Martins Fontes)

"Tolkien é um dos meus autores favoritos. Esse livro é um excelente romance e é o último que saiu dele no Brasil."

Coraline, de Neil Gaiman (Rocco)

"É um livro infanto-juvenil, mas que não é estúpido. É quase uma releitura de Alice no País das Maravilhas em tom gótico."

Jornal da Guerra Contra os Taedos, de Manoel Carlos Karam (Kafka Edições)

"Procuram muita comédia por aqui e indico o Karam, que tem um tom bem-humorado e único."

Saga Animal, de Índigo (Hedra)

"Índigo tem humor ácido e sacadas que agradam tanto a adultos quando a crianças".

A tarefa diária de Manoel Martins, 26 anos, não é das mais fáceis. O jovem precisa esquecer a máxima "gosto não se discute", se embrenhar no repertório literário das cerca de cem pessoas que passam pelo bondinho da Rua XV diariamente e sugerir a elas o empréstimo de algum dos 2 mil livros que compõem o atual acervo do espaço, reinaugurado como biblioteca no dia 20 de novembro de 2010.

Martins é o que pode se chamar de um "mediador de leitura". E a receita, explica, meio que sem tirar os olhos da biografia de Amy Winehouse, escrita por Chas New­­key-Burden, é sacar o "perfil do cliente".

"Vamos conversando, co­­nhecendo as pessoas e perguntando do que elas gostam. Aí consigo definir um padrão e sugerir algo", diz o rapaz, identificado com um colete bege que leva o emblema da Fundação Cultural de Curitiba, órgão responsável pelo Bondinho da Leitura.

São cerca de 40 empréstimos por dia. Pelo espaço circulam interessados em literatura, mas também mães com filhos a tiracolo e turistas – durante o tempo em que a reportagem esteve no local, três alemães folheavam livros e olhavam com atenção para o interior do bonde.

Outros três funcionários dividem a função com Martins, que trabalha diariamente das 10h30 às 19h30 e reveza os plantões de fim de semana com os colegas. As tarefas mais comuns são indicar livros, ligar cobrando pelo atraso de algum exemplar e... Ler. "Todos aqui leem muito", diz ele, arrumando os óculos no rosto.

Manoel Martins nasceu na Lapa e se mudou para Curitiba aos 16 anos. Cursou Artes Cênicas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e agora finaliza o curso de Letras na mesma instituição.

Além da biografia da cantora Amy Winehouse, Martins avança em 25 Mulheres Que Estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira (Record), com textos inéditos de jovens escritoras brasileiras compilados por Luiz Ruffato.

"Têm dias em que não estou a fim e não leio. Em outros, consigo ler 400 ou até 500 páginas", diz o lapeano, que também pesquisa na internet e comemora por ter comprado a coletânea O Senhor dos Anéis por preço de banana em um site de vendas. O brasileiro Ruy Castro e o norte-americano Neil Gaiman também estão entre os seus preferidos.

Quem fez as vezes de mediador de leitura para Martins foi sua tia. Dona de uma biblioteca gorda, apresentou ao então menino de 7 anos A História Sem Fim, livro de fantasia do alemão Michael Ende. "Tinha acesso fácil aos livros", lembra o leitor, que teve, entretanto, vida curta como escritor.

"Eu tive um blog. Mas escrevia e deletava. Não é para mim. Gosto é de falar sobre o que os outros escrevem", diz Martins, apontando para a funcionária sentada à sua frente. "Ela ali escreve poesia, e muito bem."

O leitor e ex-escritor também é DJ nas horas vagas. E aí atende por Manolo Neto. Em seu braço esquerdo, aliás, se revela uma grande tatuagem, imitação de um desenho feito por Jónsi, vocalista da banda islandesa Sigur Rós, uma de suas favoritas.

Antes de ser contratado para o cargo, o bibliotecário nunca havia entrado no bondinho que antes servia, literalmente, para que crianças pintassem e bordassem. E ainda há quem pense que ele serve para isso.

"Vocês têm atividades para crianças nesse trem?", pergunta alguém desavisado do lado de fora, fazendo com que Martins responda, no ato: "Temos livros infanto-juvenis para empréstimo".

Até a última terça-feira, eram 717 os cadastrados, felizardos que já podem consultar os serviços dos mediadores. Por dia, são cerca de 20 novos usuários. Foi o caso de Elisângela Marcheonato, que terminava de fazer seu cadastro e emprestar Canalha!, livro de crônicas de Fabrício Carpinejar.

"Vinha aqui quando era criança para brincar. E acho que as crianças de hoje têm outros interesses, por isso é bom ver o espaço revitalizado", conta.

Para fazer o cadastro, basta um documento com foto e um comprovante de residência atualizado. Pode-se emprestar dois livros por vez e ficar com eles durante duas semanas. Manoel Martins estará a postos para palpitar na escolha.

Serviço:

Bondinho da Leitura. Rua XV de Novembro, s/nº (próximo à Rua Ébano Pereira). De segunda até sexta-feira, das 8h30 às 19h30. Sábado, das 8h30 às 14h30. Entrada franca.

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