Perigosas paixões na Cidade Baixa

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2 Filhos de Francisco pode ter alcançado a marca recorde de mais de 5 milhões de espectadores em 2005, mas os melhores filmes brasileiros lançados no ano passado – Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, e Cidade Baixa, de Sérgio Machado – não foram vistos por um público expressivo nos cinemas. Quem perdeu na tela grande, já pode conferir pelo menos uma dessas produções na telinha: o premiado filme do baiano Machado está chegando este mês às locadoras.

Cidade Baixa marca a estréia do diretor em longas de ficção, depois da realização do também premiado documentário Onde a Terra Acaba (em breve disponível nas locadoras), sobre o cineasta Mário Peixoto, diretor do mítico Limite (1931), o primeiro longa-metragem de destaque da cinematografia nacional.

Para realizar a nova produção, Machado mergulhou fundo na região da Cidade Baixa, a periferia de Salvador, visitando prostíbulos, bares e boates barra-pesadas, tudo para contar a história de um triângulo amoroso entre dois amigos e uma garota que vira a cabeça de ambos. O roteiro foi escrito pelo diretor em parceria com Karim Aïnouz, outra importante nome do recente cinema brasileiro, diretora de Madame Satã.

O trio de protagonistas é vivido pelos hoje globais Lázaro Ramos e Wagner Moura, além da revelação Alice Braga (sobrinha de Sônia Braga). Naldinho (Moura) e Deco (Ramos) tiram seu sustento de um barco, no qual fazem pequenos transportes. Depois de um trabalho, a dupla conhece Karinna (Braga), menina de programa que pede carona para chegar a Salvador. O envolvimento inicial dos três é apenas "profissional" – Karinna paga a viagem com seus serviços.

As coisas evoluem para uma relação amorosa que pode acabar de forma trágica. Deco é o primeiro a se apaixonar, sendo correspondido por Karinna. Mas ela também se interessa por Naldinho, e o que é mais perigoso, não consegue se decidir por nenhum dos dois, causando uma grande desavença entre os inseparáveis amigos.

Apesar de mostrar as condições precárias das regiões mais pobres de Salvador, Machado não faz um filme de cunho social ou político e foca principalmente os relacionamentos humanos. A história de Karinna, Naldinho e Deco é universal, poderia acontecer em qualquer região do país. Os personagens são jovens e isto ajuda ainda mais na sua identificação com o público.

O trabalho dos atores também é de grande importância. De Lázaro e Wagner, que se transformaram nos mais importantes atores de sua geração no Brasil, não há muito mais o que se falar, depois de seus ótimas atuações tanto no cinema como no teatro, e mais recentemente na televisão. Isso ressalta ainda mais a interpretação de Alice Braga, considerada um verdadeiro furacão pela crítica quando do lançamento de Cidade Baixa nos cinemas. Revelada em Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, em que interpreta a "cocota" Angélica, a jovem atriz é a verdadeira força do filme de Machado, transbordando sensualidade (lembrando muito a famosa tia) e encarando com muita segurança cenas fortes ao lado de atores experientes.

Cidade Baixa é mais um filme de baixo orçamento que mostra que o cinema brasileiro é viável, mesmo com recursos mais modestos: bastam boas histórias e bons profissionais como Machado, sua equipe e o trio de atores. GGGG