Perspectivas para o olho

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Um dos momentos mais marcantes da São Paulo Fashion Week de 2004 foi o encerramento do desfile organizado pelo estilista Jum Nakao, quando 15 modelos rasgaram as roupas que exibiam, todas minuciosamente confeccionadas com papel vegetal. Em poucos segundos, as criações que consumiram mais de 700 horas de trabalho foram completamente destruídas. A performance polêmica questionou a banalização e a fogueira das vaidades que cerca a moda, e, mais do que isso, apontou para uma discussão sobre o limite entre a moda e a arte.

Nakao sugeriu, em conversa com o Caderno G, que a palavra "design" talvez fosse restritiva demais para a instalação que o artista atualmente prepara para o "olho" do Museu Oscar Niemeyer. "Será um trabalho voltado à arte mesmo", afirma o diretor de criação paulista, neto de imigrantes japoneses.

Em 2005, pelo projeto Ano do Brasil na França, Nakao organizou uma exposição e desfile na loja de departamentos Galerias Lafayette, em Paris. Também foi mentor do Instituto Brasil de Arte e Moda, a convite do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).

Atualmente, Nakao e o MON negociam os últimos detalhes para a exposição que deverá inaugurar em abril e ocupar não apenas o "olho" propriamente dito, mas também a sua base, conhecida como a "Torre da Fotografia". "Ainda é muito cedo para adiantar detalhes, mas posso dizer que na temática abordamos, como vem acontecendo nos nossos trabalhos, o momento da criação e a sua relação com o tempo e a arte", afirma.

Volpi

O MON também prepara uma retrospectiva das obras de Alfredo Volpi, imigrante italiano, expoente do modernismo brasileiro e integrante do Grupo de Santa Helena (que reunia um grupo de artistas modernistas de São Paulo, na década de 1930). Será uma mostra ampla abordando as diferentes facetas da pintura de Volpi, passando pelo figurativismo e o abstracionismo geométrico. A curadoria será do cineasta e crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, autor do livro Volpi: a Construção da Catedral e organizador da mostra Volpi: a Música da Cor, organizada no primeiro semestre do ano passado no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Para Curitiba, serão selecionadas aproximadamente cem obras. Parte delas deverá seguir para uma exposição na Argentina.

O gaúcho Iberê Camargo, que inspirou trabalhos de cinco artistas contemporâneos, expostos ano passado no Museu de Arte da Universidade Federal do Paraná (Musa), também receberá uma releitura extensa de sua obra. O evento é resultado de um convite do MON à Fundação Iberê Camargo, de Porto Alegre.

O grupo de artistas da Missão Artística Francesa, que influenciou profundamente a arte e o ensino de arte no Rio de Janeiro no início do século19, também será re-lembrado em uma mostra programada para este ano. "Teremos pinturas de Jean Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay, além dos desenhos de Auguste Montigny, entre outras obras. É uma exposição que irá exemplificar a importância e influência desse grupo na arte brasileira", comenta Sandra Fogagnoli, assessora cultural do MON.

Outro destaque serão as criações da artista paulista Amélia Toledo, com curadoria de seu irmão Mo Toledo. De acordo com Fogagnoli, a exposição deverá ocupar mais de uma sala e contará com apoximadamente 50 trabalhos, entre esculturas de grandes dimensões, pinturas e instalações. Também está prevista a exibição de aproximadamente cem trabalhos de jovens artistas contemporâneos argentinos. As obras são provenientes da Fundação Alberto Elia Mario Robirosa, na Argentina, que também assina a curadoria.