
Como outras moças balzaquianas francesas, a cantora Anne Carrere teve contato com a música de Édith Piaf (1915-1963) de uma maneira tão natural quanto influente.
Foi ao lado da avó, fã de carteirinha da diva de cabaré, que ouviu pela primeira vez “Non, Je Ne Regrette Rien” e “La Vie en Rose”.
O causo simboliza a relevância monstruosa que Édith tem na memória afetiva francesa, já que sua chanson, com as benesses do tempo e por sua cinematográfica história de vida, atingiu outros níveis para além da execução musical.
Teatro Positivo – Grande Auditório (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 – Universidade Positivo. Dia 19 às 21h. R$ 220 (plateia inferior central), R$ 200 (plateia inferior lateral e superior central) e R$ 180 (plateia superior lateral).
Anne, discípula do ótimo pianista de jazz Michel Petrucciani (1962-1999), é a grande estrela do musical Piaf! O Show, que acontece no Teatro Positivo, na noite da próxima quinta-feira (19). Apresentado no último fim de semana no Rio de Janeiro para um Theatro Municipal lotado, o show celebra os 100 anos de nascimento de la môme.
“É a minha primeira vez no Brasil e estou emocionada”, diz Anne, definida pelo jornal francês Nice Matin como “parte integrante da herança de Édith Piaf”. “Por que eu canto Piaf?”, pergunta ao repórter, por telefone: “Porque ela é uma personagem grande e emocionante”, responde a musicista.
Inspirado em Piaf – Um Hino ao Amor (2007), filme de Olivier Dahan que deu o Oscar de melhor atriz a Marion Cotillard (parcialmente criticado por sua essência caricata e não tão realista), o musical é dividido em dois atos de 45 minutos.
Cantora brilhou em época sem esperança
Em tempos de criação em massa de celebridades instantâneas, nunca é demais relembrar a história de quem encontrou na arte uma alternativa para a sobrevivência. Édith Giovanna Gassion nasceu em 1915, em Paris. A dor que canta é a de sempre: ela veio ao mundo durante a Primeira Guerra Mundial. Passou a infância e a adolescência alternando entre bordéis e circos. Cantava num dia para pagar o pão que comeria no outro. Viveu poucas e boas, enfim, até ser descoberta por um caça-talentos, em 1935. O sujeito lhe deu o apelido de la môme piaf (pequeno passarinho, em francês) e ofereceu shows em cabarés ajeitadinhos. Bastou. Les Mômes de la Cloche (1936), seu primeiro disco, tornou-se sucesso instantâneo. Édith escreve “La Vie en Rose”, canção celebrada até os dias de hoje, em 1945. Uma explicação para a longevidade do mito é a química entre a natural sofisticação artística de Édith Piaf com um apelo popular irresistível – algo requisitado em um período desesperançoso. (CC)
Na primeira parte, relembra-se a Montmartre dos anos 1930, bairro de Paris em que Édith cantava, nas ruas e nos bares, para fazer um troco (e sobreviver). “Quando era jovem e pobre, durante o inverno e a neve, Édith cantava também para se aquecer”, diz Anne.
O segundo momento se passa em 1961, no palco do Olympia Bruno Coquatrix, em Paris. Lá, uma Édith já famosa pôs o mundo abaixo em um show memorável.
“Sabemos que a música é uma linguagem universal. A emoção de Piaf dialoga não só com os franceses, mas com o mundo. Por isso a música dela é sempre atual, porque fala com as pessoas diretamente”, explica Anne, de 30 anos.
Depois de se iniciar em Piaf com a avó, a cantora se tornou relativamente conhecida ao participar do programa televisivo Attention Mesdames et Messieurs, em que já emulava a verve sofisticadamente visceral de la môme.
Hoje, coleciona elogios. “A voz e a personalidade de Anne Carrere nos remetem à Édith Piaf no topo de sua carreira”, escreveu recentemente Bernard Marchois, diretor do Museu Piaf, em Paris.
O desafio de interpretar uma cantora inimitável foi resolvido na humildade. “Não quero imitar. Édith foi uma só”, diz Anne. “O que busco é interpretá-la com minha voz e minha personalidade”.
No palco do Teatro Positivo também estarão os músicos Arnaud Fuste (piano), Guy Giuliano (acordeão), Nicolas Luchi (contrabaixo) e Laurent Sarrien (percussão/bateria). Fotos e imagens inéditas da cantora e tradução (em inglês) das letras de algumas músicas serão compartilhadas com o público através de um sistema audiovisual.
Confirmando o caráter “unificador” da música de Piaf, Anne revela que hoje é o filho de 17 anos quem canta e se encanta com a artista.
“Talvez a grande missão do show seja a de preservar a memória de Édith. Continuar a fazer sua música circular, porque ela ainda tem fôlego”.
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