Programe-se
Orquestra Sinfônica do Paraná, com Gabriela Montero
Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/nº), (41) 3304-7900. Hoje, às 20h30. R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).
A pianista venezuelana Gabriela Montero se apresenta com a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) hoje, às 20h30, no Guairão. Em sua terceira passagem pelo Brasil, a musicista toca pela primeira vez na capital paranaense logo após dois recitais em São Paulo e no Rio de Janeiro, em que pôde mostrar seu trabalho como intérprete e improvisadora.
No concerto de hoje, Gabriela, aos 43 anos, mostrará também seu ofício de compositora com a obra "Expatria" uma peça de um movimento e três partes dedicada às vítimas de homicídio na Venezuela.
"É uma obra muito complexa emocionalmente, em que busco mostrar o efeito de sufocamento que sentimos na Venezuela", diz a pianista, referindo-se à avaliação pessimista que faz do momento vivido por seu país. "Escrevi precisamente para descrever a sensação que muitos venezuelanos têm de ter perdido o país para a corrupção e violência", explica.
Com evidente apelo emocional e alta dificuldade técnica, a obra traz elementos que remetem a essa violência presente na visão da musicista. "Há uma seção lenta, um choro coletivo, que termina sendo destruído por esses personagens, que são a opressão militar e a corrupção", descreve.
Com Gabriela, a OSP ainda executa o Concerto para Piano N.º 5 (conhecido como o Concerto do Imperador), de Beethoven (1770-1827). A orquestra vai executar ainda a obra On the Town: Três Episódios de Dança, do compositor norte-americano Leonard Bernstein (1918-1990).
Improvisação
O aspecto de Gabriela Montero que mais desperta curiosidade sua capacidade de improvisação também poderá estar presente no concerto. Enquanto em seus recitais a pianista reserva quase metade do programa para improvisos, que desenvolve a partir de ideias fornecidas pela plateia, no concerto de hoje o número estará reservado para o bis.
"Peço ao público que me cante um tema conhecido, clássico ou popular, toco várias vezes no piano para recordar e improviso", explica Gabriela, cujas improvisações podem adquirir formas como fugas e estilos que remetem a compositores como o próprio Beethoven. "Eles têm uma forma lógica, que acontece naturalmente", diz.
Embora Gabriela dê igual importância para seu trabalho como intérprete e compositora, sua habilidade de improvisação chama a atenção por ser rara no mundo da música clássica. "É como eram os artistas nos séculos 18 e 19", compara.
"Creio que os artistas de antes não estavam tão preocupados com a perfeição. Estavam mais interessados na mensagem, em comunicar algo que fosse realmente transcendental, e perdemos essa flexibilidade, me parece", afirma Gabriela.
"Mas não quero que a improvisação me defina. O importante é ver o conjunto", diz.