• Carregando...
Grace Torres, uma das pianistas que enfrentou a obra transgressora de John Cage | Marco André Lima/Gazeta do Povo
Grace Torres, uma das pianistas que enfrentou a obra transgressora de John Cage| Foto: Marco André Lima/Gazeta do Povo

Serviço

Preparado em Curitiba – Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado de John Cage. Capela Santa Maria – Espaço Cultural (R. Cons. Laurindo, 273), (41) 3321-2840. Hoje, às 19 horas. R$ 20 e R$ 10.

  • Parafusos nas cordas criam novo timbre

Inclusão cuidadosa de parafusos, porcas, pedaços de plástico e borracha dão novos timbres a um classudo piano Bösendorfer. Aliado à engenhoca, o silêncio, compreendido como parte da música. Eis a receita para a execução da obra de John Cage (1912-1992), um dos artistas mais inventivos da música contemporânea.

Como parte da programação da 30.ª Oficina de Música de Curitiba, as pianistas Lilian Nakahodo e Grace Torres lançam às 19 horas de hoje, na Capela Santa Maria, o disco Preparado em Curitiba – Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado de John Cage. Gravado ao vivo em fevereiro de 2011 – em um Teatro HSBC lotado – o álbum é pioneiro, já que traz as gravações integrais destas peças de John Milton Cage Jr., também escritor, filósofo e poeta.

O norte-americano propiciou um furdunço quando divulgou suas sonatas e interlúdios, entre 1946 e 1948. E mais ainda quando mostrou "4’33’’", peça de 4 minutos e 33 segundos de duração em que não há uma só nota. Cage, que completaria cem anos de vida em 2012, também concebeu um novo status estrutural para o silêncio na criação musical, além de ser um dos precursores da chamada "música do acaso", ao explorar a aleatoriedade do piano preparado.

"Tocar John Cage é como aprender um esporte novo. Como aprender a andar de bicicleta. Isso porque ele criou um universo próprio, um sistema único de sonoridade", diz Grace Torres, que também integra o Grupo Fato.

Inspirada em orquestras de gamelão (Indonésia) e na filosofia hindu que identifica nove estados emocionais (as rasas), a obra de Cage tem o poder de tocar quem a ouve, da forma que for.

"Cage também é considerado um dos precursores da música eletrônica. Ele tem, sim, muita coisa ainda para acrescentar, com estudos que ainda não foram completamente digeridos pelo público", diz a musicista curitibana.

A preparação dos pianos – o ato de colocar objetos para interferir em sua sonoridade – foi orientada por Vera Domênico, diretora artística do projeto. "Outro detalhe é que cada piano responde de maneira diferente à preparação. A madeira influi, por exemplo. Isso dá toda uma originalidade ao concerto", explica Grace.

No concerto de 70 minutos – o tempo de execução da obra foi indicado pelo compositor em suas partituras –, será apresentado o ciclo completo de 20 peças, que compreendem 16 sonatas e quatro interlúdios. As peças não têm nome – algarismos romanos diferenciam uma da outra.

O concerto é entendido como raro, não só pelas obras apresentadas, mas pela oportunidade de se ouvir as composições de John Cage ao vivo – que exigem do público uma atenção diferente. Poucos enfrentam a obra do norte-americano. Segundo Grace, a estrutura e a funcionalidade dos teatros brasileiros prejudicam a execução, em alguns casos. "Precisamos do teatro um certo tempo, para pesquisar como o piano preparado vai soar. É difícil conseguirmos isso", aponta Grace.

Em fevereiro, as pianistas seguem para Darmstadt, na Alemanha, onde apresentam o álbum no evento de música contemporânea Tage für Neue Musik.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]