Em resumo
Confira alguns dos títulos que propõem uma visão global da história do mundo e do Ocidente:
Uma Breve História do Mundo, de Geoffrey Blainey. Professor de Harvard e da Universidade de Melbourne, o historiador australiano de 79 anos entrou para a lista de best sellers nos EUA e Inglaterra antes de fazer o mesmo no Brasil, onde também lançou Uma Breve História do Século XX. Fundamento, 270 págs. R$ 38,50.
História da Civilização Ocidental, de Edward McNall Burns. Trata da história do Ocidente "das cavernas às naves espaciais". É mais bem escrito e prima pelo uso de fotos, mapas e tabelas. A exemplo dos livros didáticos, recua a margem em todas as páginas para incluir o assunto que está sendo tratado nos parágrafos específicos. Globo, 800 páginas em 2 volumes, R$ 44 cada volume.
Civilização Ocidental Uma História Concisa, de Marvin Perry. Um texto mais cuidadoso, que se preocupa em fazer a coesão entre um assunto e outro, na tentativa de evitar o efeito "pilha de fatos" que livros de história concisa tendem a criar. Procura destacar as relações entre os acontecimentos. Traz cerca de 50 mapas de apoio. Martins Fontes, 675 págs., R$ 95.
A presença de dois livros na lista dos títulos não-ficcionais mais vendidos indica que o brasileiro reconhece um furo em sua formação escolar. Uma Breve História do Mundo e Uma Breve História do Século XX estão nesta semana na 4ª e 7ª posições, respectivamente, da lista elaborada pela revista Veja, na qual têm figurado há meses. Mas será que os best sellers preenchem a lacuna formativa a contento?
"Há uma linha que vem crescendo (entre historiadores) de mostrar, em uma só obra, toda a história da humanidade. Não deixa de ser interessante, mas, em termos acadêmicos, perde-se muito", diz o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Juliano Cortinhas. "Em geral, terminam como uma coleção de fatos", ressalta o professor do departamento de História da Universidade Federal do Paraná Renato Lopes Leite.
Isso porque amarrar uma ideia a outra dentro de um só texto pode ser perigoso. O pior é que, quando o autor Geoffrey Blainey tenta traçar um pano de fundo para os acontecimentos que está narrando, ele comete alguns disparates. Por exemplo, após relatar as transformações por que Alemanha e Suíça passaram com a Reforma Protestante, escreve: "Essa era a primeira vez na história europeia em que os acontecimentos principais estavam mais ao norte do que ao sul dos Alpes", desprezando dessa forma toda a história medieval de França e Inglaterra.
A comparação entre a importância de um fato e outro revela julgamentos parciais: "A notícia de suas descobertas (de Colombo) geraram um nível de estupefação, talvez excedendo a época da primeira ida do homem à Lua".
Há casos em que a tradução piora um texto, e este certamente é um deles. Exemplo: "Mais de 70 anos antes de Colombo ter partido para cruzar o Atlântico, outros já vinham mapeando a mesma rota antes dele." Não está claro o que o autor pretende afirmar. Outras frases fazem pouco ou nenhum sentido: "Tudo refletia um desejo de banhar os olhos cansados em sal e enxergar tudo de uma nova forma". "O livro traz muita coisa controversa como sendo verdadeira, não tem valor acadêmico mais aprofundado", conclui Cortinhas.
Numa escala evolutiva dos livros breves de História, há dois exemplos mais bem escritos, mas menos abrangentes: Civilização Ocidental Uma História Concisa, de Marvin Perry, prima pelo uso de imagens; e História da Civilização Ocidental, de Edward McNall Burns, investe em mapas e tabelas de datas e fatos.
"É possível contar uma história breve do mundo. Tudo depende de quais fatos são escolhidos. O que foi realmente relevante para a humanidade?", questionou o professor Jörn Rüsen, da Universidade alemã de Witten, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo. A colonização do Brasil, por exemplo, simplesmente não ocorre em Uma Breve História do Mundo. Em Civilização Ocidental , ela ocupa seis linhas, quando trata do tráfico de escravos, e em História da Civilização Ocidental, meia página, para dizer que o país foi uma exceção em meio à colonização espanhola.
Mas Rüsen não rejeita todos os relatos breves da história da humanidade, citando exemplos de textos antigos e recentes e não apenas de historiadores. Ele cita como materiais de qualidade História Universal (1920), do romancista H.G. Wells; a obra do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920); do filósofo alemão Karl Jaspers (The Origin and Goal of History, 1953); do sociólogo israelense Schmuel Isenstadt (European Civilization in a Comparative Perspective, 1987).
Um trabalho "vendável" e muito admirado pela academia são os quatro volumes do Eric Hobsbawm (que fala das eras da Revolução, do Império, do Capital e dos Extremos). "Qualquer história é sob uma perspectiva", diz Rüsen, referindo-se à lente marxista do autor egípcio-inglês. "Mas a adoção de uma perspectiva não torna o que foi escrito uma mentira", explica.
Na linha das obras bem escritas e agradáveis de ler, o professor Cortinhas recomenda a dobradinha do americano Jared Diamond, Armas, Germes e Aço e Colapso, que fala do fim das civilizações. Ele recomenda ainda O Livro de Ouro da História do Mundo, de J.M. Roberts. Mas é preciso enfrentar as 800 páginas.
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