Uma série de eventos e obras estão sendo lançadas em comemoração aos 110 anos que Drummond completaria em 2012| Foto: Divulgação
Painel de Yara Tupynambá retrata o poeta ainda jovem

Em 1951, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) publicou um poema em homenagem ao pai, que, morto duas décadas antes, completaria 90 anos. Em "A Mesa", ele imaginava o grande jantar preparado pelos oito filhos – os que não bebem e "o que gosta de beber" – para comemorar o aniversário do pai, que não gostava de festa. "Todos minúsculos/ todos frustrados", em volta de uma mesa de madeira com "flores tristes", numa "farra honesta" com tutu, torresminho e vinho português. Trinta anos depois, cenas deste encontro de família – alegre e melancólico – foram pintadas pela artista mineira Yara Tupynambá num painel de 19 metros por 1,5 metro. Pertencente à Fundação Carlos Drummond de Andrade, da Prefeitura de Itabira, cidade natal do poeta, ele pode ser visto em todo o Brasil no livro A Mesa de Carlos Drummond de Andrade, recém-lançado pela Adi Edições.

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Muito além de uma mera reprodução dos 19 módulos do painel – cada um retrata uma cena feita por Yara a partir de fotografias do acervo de Drummond –, o livro reúne textos do poeta Ozório Couto: um ensaio sobre a "A Mesa", outro sobre o painel e pequenos poemas para cada módulo pintado pela artista. Completam a edição fac-símiles de cartas enviadas por Drummond a Yara, uma relação que nasceu do olhar do poeta à obra da artista, no início dos anos 1970.

"Drummond foi a uma exposição minha no Rio em 1972 e depois escreveu sobre ela no Jornal do Brasil. Escrevi para ele agradecendo e mandei junto uma gravura de um lampião. Ele então me enviou uma carta linda, e comecei a trabalhar sobre sua obra, que já apreciava muito", conta a artista de 76 anos, que começou a estudar arte com Guignard e teve aulas de gravura com Misabel Pedrosa e Oswaldo Goeldi.

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A artista criou uma série de obras sobre a relação de Drummond com Minas Gerais antes de chegar à vida familiar contada nos 340 versos da estrofe única de "A Mesa", publicada no livro Claro Enigma. Numa das seis cartas do livro – cada fac-símile é apresentado dentro de um envelope colorido com pedaços do painel –, Drummond elogia a obra que a amiga ainda criava, em 1982, mas cuja elaboração conhecia por fotos: "Cheio de finas percepções, assimilando o espírito de tempos passados, tão profundamente mineiro, tão integrado no mistério das famílias e das almas!", diz o poeta.

Foi por meio de outro mineiro, Ozório Couto, que as obras de Yara ganharam as páginas do livro. Amigo da artista, ele não foi à inauguração do painel, com o qual só se deparou ao fazer um dos Caminhos Drummondianos – que percorrem locais e destacam personalidades que fizeram parte da vida do poeta em Itabira. A cidade – assim como o próprio Drummond – não encantou Couto de cara. Mas isso mudou depois que ele passou a integrar a Arcádia de Minas Gerais, em 1999, ocupando a cadeira 4, cujo patrono foi Drummond. A partir de então, Couto começou a conhecer sua poesia mais a fundo.

"Passei a ler a obra de Drummond de cabo a rabo, e hoje já devo ter lido tudo dezenas de vezes", diz Couto. "Na primeira vez em que fui a Itabira, não simpatizei. Mas depois surgiu um grande amor pela cidade."

Em Itabira, Couto teve a chance de encontrar personagens da história de Drummond, conhecidos em vida ou por meio dos arquivos da cidade. Seu ensaio sobre "A Mesa" traz uma série de notas sobre os familiares do poeta, como Rosa Amélia, a irmã mais velha, citada em muitas de suas obras; e sobre elementos recorrentes em sua poesia, como o vinho e a cor azul. Junto às pinturas de Yara, dão novas nuances à mesa imaginária de Drummond.

Serviço

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A Mesa de Carlos Drummond de Andrade, de Ozório Couto e Yara Tupynambá. Adi Edições, 152 págs. Ensaios.