Se no livro de José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira, levado às telas por Fernando Meirelles, os habitantes do planeta são acometidos por uma cegueira súbita, causadora de tragédias reveladoras da maldade e da solidariedade humanas, na série Flash Forward, que estreou na última terça-feira, no AXN, algo semelhante acontece. O mundo inteiro (salvo algumas exceções, que começam a se revelar ao longo dos episódios) desmaia durante exatos dois minutos e 17 segundos e, quando as pessoas voltam à consciência, deparam-se com o caos generalizado: centenas de aviões caíram, pessoas morreram afogadas, atropeladas ou na mesa de operação, entre outros acidentes.
Mas, o que perdura após o incidente é mais do que o oposto da cegueira: a clarividência. Durante seus desmaios, as pessoas anteviram algum episódio de suas vidas seis meses depois o tal flash forward que dá nome à série (algo como "avançar rapidamente", em uma rude tentativa de tradução). É a partir de sua própria visão sobre o futuro que o agente do FBI Mark Benford, interpretado pelo Joseph Fiennes (de Shakespeare Apaixonado), dará início à investigação sobre o que pode ter ocorrido.
Ao mesmo tempo, ele terá que lidar com problemas pessoais causados pelo acontecimento, já que sua esposa, a médica Olívia (Sonia Walger, a Penelope de Lost), previu que estará com outro homem em um futuro próximo. As questões de foro íntimo que se avizinham parecem apontar um viés mais intigante da série. Já no primeiro capítulo, entrevemos que a policial homossexual Janis (Christine Woods) ficará grávida; Aaron Stark (Brian OByrne) irá rever sua filha, que ele imaginava ter morrido no Iraque; e Demetri (John Cho), parceiro de Mark, julga que irá morrer, já que não viu nada durante o desmaio.
A série, adaptação para a tevê do livro de Robert J. Sawyer, estreou nos Estados Unidos anunciada como sucessora de Lost por seu começo envolto em enigmas. Mas, ao contrário da trama de J.J. Abrams, o público foi se desinteressando à medida que os desdobramentos não se resolviam bem (por conta disso, dois dos criadores da série abandonaram a produção).
O primeiro capítulo de Flash Forward é eletrizante, com diversas cenas que se sobrepõem formando um quebra-cabeças frenético a ser decifrado pelo espectador. Mesmo assim, indica que o que se verá nos próximos episódios não é nem de longe comparável ao Lost, com sua produção cuidadosa, quase cinematográfica e roteiro original extremamente inteligente.
Em Lost, a queda do avião da Oceanic em uma ilha desconhecida tem como desdobramentos uma série de aventuras inspiradas em referências literárias que remetem o público até mesmo a questões filosóficas e existenciais.
Já a nova série não parece ter a estrutura necessária para sustentar uma história de tal fôlego, com personagens complexos como Sayid e o triângulo amoroso formado por Sawyer, Kate e Jack. Mesmo assim, a série promete ser entretenimento televisivo garantido para as terças à noite. Muito melhor do que Big Brother.
Serviço
Flash Forward é exibido todas as terças-feiras, às 22 horas, no AXN.
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