O conceito de ópera de bolso, tradução literal de pocket opera, é uma denominação muito ampla que permite a acomodação de espetáculos de teatro musical em pequena escala e que eventualmente, rompem fronteiras entre as linguagens cênicas. Solo, apresentado no último fim de semana, dentro da série Ópera Ilustrada, na Capela Santa Maria, uma adaptação feita a partir de vários trabalhos em maior escala da compositora curitibana Jocy de Oliveira, é um exemplo muito bem realizado do gênero. Com uma primorosa interpretação da cantora-atriz Gabriela Geluda e participação do oboísta Ricardo Rodrigues, além de impecável produção, a apresentação proporcionou uma experiência que transcende os conceitos de ópera, peça teatral, concerto etc. É tudo isso e algo mais.
Slideshow: Veja fotos da Opera Solo
Sonoridades eletroacústicas emitidas por um sistema de oito canais de som, efeitos de luz e interações com vídeos digitais foram usados para criar um ambiente de magia em torno de vários aspectos do papel da mulher na sociedade e na representação artística. Num dos vídeos, aparece a atriz Fernanda Montenegro numa impactante encenação de uma diva.
O espetáculo é dividido em quatro partes: "La Loba", narrativa inspirada por uma lenda do deserto mexicano; "Raga", seção desenvolvida a partir de uma escala indiana para oboé e sons eletroacústicos; "Medea Solo", uma reflexão livre sobre a personagem do teatro grego; e "Naked Diva", que é cantada e recitada inteiramente em italiano, numa homenagem à cantora lírica Maria Callas às avessas, ou seja, expondo seus conflitos e medos.
O espetáculo foi muito favorecido pelo ambiente da Capela Santa Maria. A produção soube conciliar de forma muito eficaz a atmosfera leve e recatada do espaço com uma tecnologia de ponta. Porém, o público era inexplicavelmente reduzido. Alguns certamente dirão que um evento de música contemporânea não atrai muito público, mas o que se tem observado é que eventos dedicados à música mais experimental como a Bienal Música Hoje de Curitiba, ocorrida no final de agosto, tem atraído um público cada vez maior. Esse é um problema que, infelizmente, vem acontecendo com a Capela Santa Maria, independentemente do estilo da obras apresentadas nos programas. Ao contrário de outros espaços dedicados à música de concerto em Curitiba, como o Teatro da Reitoria e o Guaíra, que têm tido eventos cada vez mais concorridos.