São quatro mulheres de personalidade forte, pois a vida nunca foi fácil para Negra Li, Leilah Moreno, Quelynah e Cindy, que tiveram de batalhar muito e ainda lutam para conseguir o almejado sucesso na carreira artística. Oriundas da periferia de São Paulo, como as integrantes do grupo Antônia que vivem no cinema e na televisão, elas sempre conviveram com o preconceito (escolha um: mulheres, negras e pobres), mas conquistaram seu espaço com muito trabalho.

CARREGANDO :)

Em entrevista ao Caderno G, o quarteto fala do que teve de abdicar para abraçar o projeto da diretora Tata Amaral, como ele mudou suas vidas e a responsabilidade e as cobranças que chegam com a grande exposição que estão tendo atualmente.

Caderno G – Quais as mudanças que o filme e o seriado trouxeram para suas vidas?Leilah Moreno – Trouxeram muito mais trabalho. Mas acho que crescemos interiormente, eu principalmente.Negra Li – Ajudou a divulgar melhor o nosso trabalho, para podermos mostrar também nosso lado atriz (são todas cantoras de origem). Só fui mesmo acreditar quando vi na tela grande. Cara, sou atriz de cinema, que louco isso! Mesmo sendo já conhecida como cantora, fiquei ainda mais com o filme e a série. Cindy – Antônia me fez acreditar mais no meu trabalho. Já era cantora e atriz de teatro. O filme fez com que eu me dedicasse mais ao estudo no teatro, visse que é possível melhorar.

Publicidade

Novas oportunidades no cinema e na TV já estão aparecendo?Negra Li – Temos que aproveitar agora que somos jovens. Essa é a hora de trabalhar, aceitar novos desafios. Sempre rola alguns convites. Poderiam acontecer muitos mais, mas as pessoas sabem que somos exclusivas da Globo, por causa da série. Mas os convites pintam na própria emissora, para fazer novela. Já fiz teste para uma.Leilah – Queremos fazer comercial. Mas não sabemos se dá para fazer outra coisa por causa da nova temporada da série.

Foram cinco meses de ensaios e filmagens. Tiveram de abdicar de muitas coisas para fazer o filme?Negra Li – Foi difícil largar tudo para fazer o filme. Tinha acabado de lançar um CD com o (rapper) Helião e tive que deixá-lo na mão, sem shows. Mas ele foi bacana, levou numa boa. Agora há pouco, quando terminei meu CD-solo, estava no meio da série e e também não pude fazer o lançamento direito. Cindy – Perdi todas as casas em que era residente como cantora. Leilah – Conciliar nossa carreira musical com o filme e a série foi muito difícil.

Sentem-se como um exemplo a ser seguido pelas meninas da periferia?Negra Li – Poder representar a periferia, a mulher negra, o hip-hop é maravilhoso. E atuar passando também uma mensagem é muito importante. Cindy – Tudo isso é uma injeção de ânimo nas meninas mais novas, da periferia, de auto-estima, de persistência.Negra Li – Na minha época de menina, não tinha em quem me espelhar. Pensava em ser paquita, mas como se elas só podiam ser brancas, louras? Quando a Bom Bom (primeira paquita negra) entrou, até chorei e vi até que tínhamos uma possibilidade. É uma coisa que as meninas podem sentir hoje.

Mas vocês acham que têm algum tipo de responsabilidade por estar fazendo sucesso?Quelynah – Quando há uma oportunidade de ter gente como nós na televisão, os negros e pobres esperam que a gente fale por eles. Então é uma responsabilidade que carregamos.Negra Li – Já estão me cobrando uma postura. Fiz escova no cabelo, que está mais liso (fez plástica no nariz também). Agora falam que estou renegando as origens, que quero ser branca. Isso me preocupa um pouco. Adoro representar a periferia, os negros, o hip-hop, mas se isso fizer com que me torne escrava da minha cor, da minha condição social... Quem não deseja melhorar de vida, morar num lugar mais calmo, numa rua mais plana, sem aquelas subidas e descidas do morro? Eu sou mulher, mulher gosta de ficar mudando o visual. Se a cada coisa que for fazer eu tiver que me preocupar com o que as pessoas vão pensar ou falar, não vou ser livre de verdade, não vai ter graça para mim.Cindy – Tudo isso é um preconceito, da mulher negra não poder mudar o cabelo, fazer a estética que gosta. Nós, como artistas, vamos mostrar nosso trabalho com nosso valor, com nossos CDs cada vez melhores, bem produzidos. Sou uma cantora brasileira. Nos meus shows quero ter efeitos especiais, vou conseguir isso. As pessoas fantasiam muito o negro como um personagem: ser negro é ter cabelo black power. Não vejo nenhuma diva pop negra no Brasil atualmente. Gostaria de ver uma menina negra fazendo pop/rock, para mostrar que o preconceito está acabado, que as pessoas estão ouvindo a música pela música. Mas o negro aqui ou faz rap ou faz samba.

Publicidade