
Embora o circuito cinematográfico curitibano pareça estar tomado por blockbusters, como Amanhecer 2, derradeiro episódio da saga vampiresca Crepúsculo, e Operação Skyfall, nova aventura do agente 007, vale a pena vasculhar a programação. Entre as pérolas que arriscam passar batidas em meio a tantos megalançamentos, um dos destaques é o belíssimo drama E Agora, Aonde Vamos?, da diretora libanesa Nadine Labaki, que estreou como diretora em 2007, com o sucesso internacional Caramelo.
No ano seguinte ao lançamento de seu primeiro longa, diante de uma breve, porém sangrenta guerra civil no seu país, Nadine decidiu que precisava mudar de tom e falar do impacto devastador sobre a população de um conflito fratricida, entre facções cristãs e muçulmanas, como o que havia ocorrido. "Eu havia tido um filho [com o compositor Khaled Mouzanar, que escreve as trilhas sonoras dos filmes da diretora], e comecei a imaginar se um dia eu o veria segurando uma arma e apontando para alguém do seu próprio povo, um vizinho, um amigo", contou Nadine, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, realizada no Rio de Janeiro, em agosto passado.
Dor de mãe
E Agora, Aonde Vamos?, como Caramelo, fala de mulheres, mas sobretudo de mães, e do sofrimento de ver seus rebentos lutando uns contra os outros, de uma hora para outra, por questões políticas e religiosas, em uma aldeia do interior do Líbano. "Um dia estavam jogando bola, brincando, saindo juntos. No outro, se matando."
O longa-metragem tem início com uma belíssima cena de abertura: um grupo de mulheres, todas vestidas de preto, dirigem-se, por um caminho empoeirado, a um cemitério, onde estão seus filhos. Enterrados. Enquanto andam, fazem uma espécie de dança ritual, para expressar a profunda dor que sentem. É arrepiante.
Nadine diz que a cena tem como inspiração rituais de luto observados mundo afora, em que mulheres rasgam suas roupas, arrancam os próprios cabelos, se arranham e choram copiosamente para expressar seus sofrimentos. "Não é uma cena realista, mas uma imagem que criei e que, de certa forma, resume o espírito do filme."
Recordista de bilheteria no Líbano, onde nenhuma produção nacional levou tantos espectadores aos cinemas, E Agora, Aonde Vamos? foi adotado como libelo nacional contra a barbárie da guerra entre irmãos.
As personagens, entre elas a protagonista da trama, mais uma vez interpretada pela diretora, são mulheres de diferentes gerações, todas muito próximas umas das outras, embora pertençam a grupos religiosos distintos e que se unem contra a guerra que mata seus filhos. GGG1/2



