No começo da manhã de sexta-feira, a jovem de 19 anos Shayla Wiggins pulou uma cerca para caminhar ao longo das margens do rio Wind em Riverton, no estado americano de Wyoming. Ela estava procurando por pokémons, as criaturas de animação colecionáveis que estrearam no Japão em 1995 e desde então prosseguiram para ganhar o coração de todo aluno da quinta série.
Em vez disso, o que Wiggins encontrou a deixou em lágrimas, dando início a uma investigação policial.
Uma semana antes de sua descoberta, a busca de Wiggins por pokémons ao longo do rio Wind teria sido recebida com preocupação ou troça. Mas o mundo – ou, até agora, Austrália, Nova Zelândia e os Estados Unidos, incluindo Riverton, Wyoming – mudou na quarta-feira. Isso graças a Pokémon Go.
Pokémon Go transformou a busca por personagens de videogame no mundo real em um hobby de verdade.
O que é Pokémon Go?
Para os não iniciados, Pokémon Go é um novo jogo de realidade aumentada que convida os jogadores a caçar pokémons digitais com seus smartphones, os quais são alocados usando um algoritmo criado pela empresa Niantic Labs e que funciona por GPS. O negócio é que o jogo, diferentemente da série original da Nintendo e a maioria dos videogames na história até esse momento, requer exploração física. Ao trocar um Game Boy por um smartphone, Pokémon Go pode transformar a realidade em um gigante mundo de jogo. Os efeitos combinados são parte observação de aves, parte geocaching, parte caça ao tesouro, com uma boa dose de nostalgia pela metade dos anos 90.
Para capturar pokémons, os jogadores andam até um local e os espiam em seus smartphones. Vistos por através da câmera dos smartphones, as criaturas vêm à existência ao lado de objetos físicos. Um Diglett, com forma de toupeira, sai de uma privada. Ou um demônio em chamas chamado Ponyta galopa por através do Passeio Nacional, na cidade de Washington.
Agitando o indicador ou o polegar para cima, como se jogasse o menor jogo de skeeball do mundo, o jogador de Pokémon Go tenta capturar essas criaturas com pokebolas. Capturas repetidas de criaturas do mesmo tipo resultam em doces. Alimentar à força um pokémon com doces faz com que cresça em poder. Criaturas poderosas batalham em ginásios, que são arenas digitais localizadas em pontos de interesse no mundo real.
“Estamos animados que fãs de Pokémon e jogadores possam começar a explorar agora suas próprias vizinhanças e cidades para capturar pokémons usando o aplicativo do Pokémon Go”, disse um comunicado à imprensa da desenvolvedora Niantic Labs divulgado na quarta-feira. “Os jogadores podem descobrir e capturar mais de 100 pokémons saídos dos jogos originais Vermelho e Azul.”
Se você é um fã de Pokémon, ou se vive na Austrália, Nova Zelândia ou Estados Unidos, há uma boa chance de já ter esbarrado com um jogador de Pokémon Go (os sinais incluem vigorosos toques em telas de touchscreen, olhos colados no celular e caminhadas sem destino). Talvez você já tenha entrado na toca do coelho. O aplicativo é livre e, como a franquia que lhe deu origem, massivamente popular.
Mais popular que o Tinder
Vinte e quatro horas depois de ser lançado no mercado dos Estados Unidos, Pokémon Go havia sido instalado em mais celulares Android do que o aplicativo de paquera Tinder, de acordo com analistas da empresa SimilarWeb. Na sexta-feira (08), jogadores de Pokémon Go tinham instalado o aplicativo em um a cada 20 celulares Android nos Estados Unidos, e jogadores gastaram uma média de 43 minutos por dia jogando – muito mais do que o tempo médio gasto usando o Twitter, por exemplo. Dados correspondentes não estão disponíveis para os celulares Apple, mas Pokémon Go decolou para o primeiro lugar em faturamento no aplicativo iTunes devido às compras opcionais dentro do jogo. As ações da Nintendo subiram 10% conforme o jogo superou as expectativas.
Pokémon Go está aparecendo em vídeos ao redor do mundo: em Sydney, um encontro improvisado no sábado à tarde acabou reunindo dois mil caçadores de pokémons que marcharam em procissão como formigas. Meio mundo longe dali, muito depois da partida do último trem, millenials ainda estavam andando pelos parques da cidade de Washington procurando por pokémons raros. De acordo com a postagem no Reddit de um jogador de Pokémon Go de 40 anos, uma caçada noturna às três da manhã na companhia de dois “caras negros de vinte e poucos anos” levantou suspeitas da polícia que supostamente só foram afastadas quando o próprio policial baixou o jogo.
Pokémon na maternidade, no velório e na Casa Branca
Como as criaturas podem aparecer virtualmente em qualquer lugar, elas já o fizeram – em escritórios, funerais e salas de parto.
Pokémons, como Wiggins contou à rede de teve de Wyoming KTVQ, podem ser encontrados em qualquer lugar. Tipos específicos estão associados a certos habitats, graças a dados geográficos. “Estava tentando capturar um Pokémon de uma fonte de água natural”, disse.
Fiel ao espírito original de Pokémon, jogadores podem usar suas criaturas para lutar. A Igreja Batista de Westboro, sede de um ponto de encontro do Pokémon Go chamado ginásio, se tornou um campo de batalha social tanto quanto virtual. Jogadores progressistas que conquistaram o ginásio deram nomes como “AmorÉAmor” a seus pokémons; a Igreja deu um nome a um pokémon ave usando um xingamento homofóbico.
(Jogadores são divididos entre três facções e competem pelo domínio sobre ginásios. A fonte no Gramado Norte da Casa Branca, digitalmente acessível pelo lado de fora da cerca, é um ponto altamente valorizado.)
Servidores ocupados
Para fazer esse mundo virtual funcionar, a desenvolvedora do Pokémon Go, Niantic Labs, emprestou muito do mestre dos mapas digitais – Google. Conforme o diretor executivo da Niantic contou ao site Mashable: “muitos de nós trabalhamos no Google Maps e no Google Earth por muitos, muitos anos, então queríamos que o mapeamento fosse bom.”
Foi o DNA Google da Niantic que permitiu que seu jogo anterior, “Ingress”, mapeasse pontos de interesse. Quando “Ingress” foi lançado, em 2011, pedia que jogadores marcassem locais específicos. “Isso é típico do Google”, o especialista em realidade aumentada do Instituto de Tecnologia da Geórgia Blair MacIntyre disse à revista New Scientist à época. “Eles podem conseguir informações sobre novos monumentos, e isso pode realmente ajudá-los a gerar resultados de busca mais interessantes, porque essas são as coisas que as pessoas da região dizem que são interessantes.”
Pokémon Go usa as informações geográficas do “Ingress” para popular seu mundo com pokémons, para que criaturas da água sejam encontradas perto da costa, por exemplo. Pontos de interesse em locais públicos que dão aos jogadores itens são chamados Pokéstops. Alguns dos pontos mais populares do “Ingress” se tornaram ginásios.
Mas é aí que Pokémon Go faz uma virada explosiva – Pokémon Go é muito mais popular do que “Ingress”. Os servidores da Niantic caíram repetidamente ao longo da última semana, e ela deu uma pausa no lançamento ao redor do mundo. Alguns jogadores de outros países tentaram encontraram rotas para acessar o jogo fornecidas por softwares de terceiros, apenas para serem infectados com vírus.
Fraturas
A popularidade também significa que certos pontos de interesse, administráveis no “Ingress” devido à base muito menor de jogadores, foram tomados por enxames de jogadores. O que era uma igreja até 2015 – e, portanto, um local do “Ingress” – se tornou um lar quando o designer Boon Sheridan, do estado de Massachusetts, comprou o prédio e o converteu em um espaço para viver. Agora é também um ginásio, que foi inundado por jogadores. Não há no momento nenhuma opção no site da Niantic para Sheridan remover ou alterar o local do ginásio, o que o levou a indicar o problema no Twitter.
Apesar do aumento no tráfego tanto a pé quanto de carro – inclusive em horas estranhas da noite – Sheridan disse que não está chateado. “Não estou bravo – foi mais a surpresa do que qualquer outra coisa”, disse ao Buzzfeed.
Jogar no mundo físico também traz problemas físicos. Pokémon Go tem fraturado metatarsos e esfolado canelas. A tela de carregamento do jogo alerta os jogadores para que prestem atenção aos seus arredores.
Assaltos
Pior ainda é o crime. No Twitter, a polícia de Omaha, no estado de Nebraska, relatou um assalto relacionado ao Pokémon Go. Como o Washington Post relatou no domingo (10), a polícia de Missouri disse que jogadores foram assaltados depois de visitar Pokéstops remotos. Os criminosos supostamente usaram itens digitais chamados lures para tornar a Pokéstop mais atraente para pokémons – e os jogadores que se seguiriam. Quatro suspeitos, todos adolescentes, foram acusados de assalto à mão armada, conforme a polícia encontrou uma arma de fogo com um deles.
Ações em alta
24 horas depois de ser lançado no mercado dos Estados Unidos, Pokémon Go havia sido instalado em mais celulares Android do que o aplicativo de paquera Tinder, de acordo com analistas da empresa SimilarWeb. Na sexta-feira, jogadores de Pokémon Go tinham instalado o aplicativo em um a cada 20 celulares Android nos Estados Unidos, e jogadores gastaram uma média de 43 minutos por dia jogando – muito mais do que o tempo médio gasto usando o Twitter, por exemplo. Dados correspondentes não estão disponíveis para os celulares Apple, mas Pokémon Go decolou para o primeiro lugar em faturamento no aplicativo iTunes devido às compras opcionais dentro do jogo. As ações da Nintendo subiram 10% conforme o jogo superou as expectativas.
Jogadores também já se encontraram em situações desconfortáveis. No site Medium, Omari Akil, um escritor negro da Carolina do Norte, descreveu a preocupação que sentiu jogando Pokémon Go, temeroso de que se começasse a vaguear – como o jogo parecia exigir – levantaria suspeitas potencialmente letais.
“Passei menos de 20 minutos na rua. Cinco desses minutos foram gastos curtindo o jogo”, Akil escreveu. “Muito rapidamente meus sonhos de capturar pokémons foram suprimidos pela realidade infeliz que existe para um homem negro nos Estados Unidos. Percebi que se continuasse a jogar esse jogo, ele poderia literalmente me matar.”
Cadáveres
Para Wiggins, Pokémon Go significou encontrar um cadáver.
“Estava andando ao longo da margem em direção à ponte quando vi algo na água”, contou à KTVQ. “Tive de dar uma segunda olhada e me dei conta de que era um cadáver.” Autoridades acreditam que a morte foi acidental, de acordo com a CNN.
Wiggins ficou abalada com a descoberta. Mas, assim como milhares de pessoas como ela, planeja retornar a jogar Pokémon Go algum dia.
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