Bernardo Bravo é músico, produtor cultural e tão curitibano quanto carioca. Se para o artista, o Rio de Janeiro é berço, Curitiba é onde a sua trajetória musical transcorre. Depois de se lançar como cantor com o duo Felixbravo, veio o primeiro trabalho solo, intitulado “Arlequim” (2013), que combina voz, piano e referências da commedia dell’arte.
A breve apresentação é necessária para entender o salto criativo do artista, que há alguns dias lançou nas redes o malicioso “Coyoh”. Em seu novo disco, Bernardo rompe com os padrões líricos das suas obras anteriores para evocar a verve contemporânea do rock. O resultado poderá ser visto ao vivo no Teatro Paiol nesta sexta-feira (17), às 20h.
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Sobre a mudança de direção, o cantor argumenta que optando por um campo harmônico mais simples, o espaço musical se tornou mais amplo.
“Um belo dia acordei e toda a leveza, a sofisticação e o lirismo que havia cultivado simplesmente não me atiçaram mais. Aí resolvi me revirar até no jeito de compor. Passei a pensar em riffs ao invés de acordes dissonantes. Resolvi me reinventar. Optei pelo simples”, conta Bernardo em entrevista à Gazeta do Povo.
“Coyoh” é um exercício de liberdade
Levadas para o estúdio no começo de 2016, as 13 faixas do disco foram compostas ao longo de três anos. A excelente produção foi realizada pelo músico Du Gomide, que também pegou em guitarras, baixos e sintetizadores durante a gravação. Além dele, a banda de apoio é formada por Rodrigo Chavez (baixo), Denis Mariano (bateria) e Marc Olaf (teclas). Nomes consagrados nas gigs curitibanas.
Apesar da imensa distância estética com a figura cênica de “Arlequim”, as especulações sobre o amor permanecem em “Coyoh”. No entanto, as conclusões são outras. Se em 2013 o cantor explorava o romantismo, hoje, a liberdade e as camisas floridas traduzem melhor sua “pós-moderna visão”, que encontrou na arte erótica japonesa um substrato para as canções.
“Num dado momento comecei a pesquisar a Shunga, uma arte linda e antiga do Japão. E isso criou uma linha de sentido na minha cabeça a ponto de eu ilustrar a música com isso”, explica.
Com sonoridade trêmula, instável e desconcertante, o disco abre com a faixa homônima “Coyoh“. Na sequência, a bem humorada “5 minutos” aposta no contraste entre voz serena e guitarra pesada. A dualidade potencializa as indagações dos versos: “Se eu me apaixono a cada cinco minutos / Com quem que eu vou casar?”. O resultado é um profícuo entrosamento entre paisagem sonora e letra.
“Ebulição no microfone não é pra qualquer um”, diz um dos provocativos versos de “Verve”, que embriaga o ouvinte pela força melódica. “Desencontro” é tristonha, mas ainda otimista. O ritmo de marchinha aparece em “Perdeu a graça, fim”, que cresce sob constantes inserções de acordeão.
“Coyoh sou eu puto, eu idiota, eu ministrando esporro e sendo extremamente cínico. Ele é uma resposta atual para o que vivemos hoje. Me abri pra guitarra, pro noise, me abri pra música contemporânea, me abri pro ruído e pro simples”, crava Bernardo.
Profundidade e engajamento
Em dueto com Leo Fressato, “Pega paga” ironiza a vulnerabilidade profissional da classe artística. “Eu sei que pega mal, mas pelo menos isso paga bem” é o mantra que conduz o clima road trip da canção. O silêncio entre-faixas é interrompido por um “Fora Temer”.
Iniciativa do próprio Bernardo, a intervenção política entrou de última hora no disco. O produtor Du Gomide comprou a ideia . “Discos são fotos de um período, discos também refletem a história política de uma nação.Discos foram as armas e os tijolos que me criaram”, afirma Bernardo.
Em seguida, os metais de Lauro Ribeiro imprimem profundidade e ternura na aconchegante “Distração letal”. “Gata”, a mais descontraída, brinca com a vaidade alheia, enquanto “Guria”, a mais eletrônica, cria um ambiente espacial e erótico.
A clavi funkeada de Marc Olaf e a guitarra pontual de Rodrigo Lemos conectam “Tora na Delícia” à uma candência livre de urgências. Assim como “Coçadinha”, que é tanto lenta quanto inofensiva. Todas elas, mesmo que tangencialmente, tratam das deliquescências das relações modernas. Por fim, “Coração Traíra” reconhece a imposição química do amor e encerra o trabalho da forma mais ensolarada possível: em coro.
A frente de tudo, a musicalidade de Bernardo Bravo endossa as simplicidades e profundezas do disco. Apesar das armadilhas, “Coyoh” é um lugar seguro.
Ouça o disco “Coyoh” de Bernardo Bravo:
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