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Pantanal não é só novela, também tem eleição. | Divulgação
Pantanal não é só novela, também tem eleição.| Foto: Divulgação

Às vezes diante da tevê me sinto como uma criança pequena, daquelas que, quando termina um desenho, pede para pôr de novo e de novo... Claro, não chega a ser assim tão sistemático, mas quando, finalmente, lá pelas dez e tanto da noite, consigo sentar-me diante da telinha prefiro o conforto da "satisfação garantida". Pode ser o Saia Justa da semana – reprise aos sábados, no GNT –, mas para um consumo mais imediato e sem comprometimento tenho ido mesmo é de Pantanal, a novela da antiga Rede Manchete, que o SBT está reprisando no momento. Dezoito anos se passaram da estréia do épico sertanejo de Benedito Ruy Barbosa. Agora, com alguma distância, é possível saber porque a novela foi sucesso na época e porque nos parece tão ingênua hoje.

Não se trata de nenhuma obra-prima. Com seu virtuosismo estético, Pantanal está mais para um documentário do Discovery Channel do que para uma obra de teledramaturgia. Muitas vezes o roteiro não tem pé nem cabeça. Em um minuto, você está olhando a imagem idílica de um tuiuiu no remanso ao som de Sá e Guarabira, quando corta-se seco para um peão "voando" no lombo de um cavalo. Agora quem canta é Sérgio Reis – a trilha sonora, para mim, é o ponto alto do pacote-Pantanal. Sem contar toda a baboseira sobrenatural...

Mas não dá para subestimar a força da saga de Zé Leôncio e seus filhos. Pantanal faz a junção do Brasil rural e do urbano para um espectador que muitas vezes está no meio do caminho entre esses mundos. Em meio à bela paisagem do pantanal matogrossense, lendas, causos e o jeito de falar do caboclo tocam o nosso DNA primitivo, vezes pela ingenuidade, vezes pela graça que provocam. Impossível não rir da curiosa e matreira empregada Zefa ou de Tadeu, filho do dono da fazenda, criado como peão e com um vocabulário que não ultrapassa a porteira.

O bom é que você pode ficar dias sem ceder à tentação preguiçosa de assistir à novela e mesmo assim não vai perder o fio da meada. Barbosa é craque naquele macete didático que os noveleiros têm de colocar na boca dos personagens tintim por tintim o que ocorreu nos dias anteriores para que o telespectador não se desinteresse da história. Acima de tudo, para quem está na faixa dos 30, Pantanal é uma viagem estética, cultural e política ao passado recente. Alguém que dormisse no Brasil em plena era Collor e acordasse 18 anos depois se surpreenderia. Não usamos mais as calças bag de Guta, preferimos as skinnies de Lara. Êta saudade arrastada, como um capítulo de Pantanal...

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