Em cada canto há um café. Foi difícil entender como tantos cafés sobrevivem em Portugal. Não estão localizados apenas no centro ou nas regiões mais movimentadas da cidade. Em qualquer lugar, na região rural, em uma estradinha que leva para a aldeia, é possível encontrar facilmente um.
E quase todos com esplanadas. Eis outra instituição nacional. A esplanada é uma área externa, coberta ou não, com cadeiras e mesas, em contato com o pátio ou com a calçada.
Assim que cheguei, marquei com um amigo uma caminhada matinal até a igreja de Bom Jesus de Braga, para apreciar os imensos escadórios barrocos. Como é de costume, tomei meu café em casa. Assim que saímos para enfrentar a escalada, meu amigo disse que pararíamos numa pastelaria.
Ele pediu pão com manteiga e um galão para cada um de nós.
Galão é uma caneca de café com leite. Os pedidos recebem outras designações. Café com leite pequeno – pingo. Um cafezinho preto: café cheio. Uma média, meia de leite. E assim vai. Este vocabulário é fundamental para ser bem atendido.
Assim que chegamos ao alto do Bom Jesus, encontramos um belo café, com esplanada fornecendo uma vista magnífica da cidade. Pede-se um café cheio e se pode ficar ali horas.
Uma corretora de imóvel que me ajudava a encontrar um apartamento me explicou que preferia o bairro de Lamaçães por causa da quantidade de cafés.
– Foi onde instalei minha mãe – ela me disse. Para ela ficar pelas esplanadas fumando e conversando com as pessoas.
Muita gente toma o pequeno-almoço nas pastelarias, passa a manhã por ali, vendo tevê ou lendo jornal. Portugal tem uma imensa população aposentada (reformada, como preferem por estas bandas), que se socializa nos cafés. Na hora do almoço, eles servem o prato do dia. Ou um prego – um sanduíche com bife e ovo. Além de tostas – umas torradas imensas, altas, muito apreciadas. E tem ainda o croissant amanteigado ou de chocolate. Adoro croissant misto, com fiambre (nome reservado ao presunto de Parma) e queijo, um queijo que não derrete bem e é mais azedo do que o normal.
Brincando, digo para a família, depois de uma viagem pela Espanha, que a diferença entre os dois países é que em Portugal a paisagem é de cafés e pastelarias; em Espanha, de bares onde se bebe muito vinho. Para se beber vinho aqui, vai-se às tascas.
Ainda não tinha uma explicação satisfatória para tantos cafés, para tanta gente comendo pão com manteiga ali e tomando uma meia de leite, coisa que fazemos em casa, pois vamos a uma padaria para comer algo diferente, não para o trivial.
A resposta me veio por um poema de Adília Lopes, no livro “Apanhar ar” (Assírio & Alvim, 2010). Em vários momentos de sua obra, a poeta lisboeta fala dos cafés. Mas neste há um terceto lapidar:
Café
lugar que é rua
e casa
Bingo! Para o português, o café é o ponto de contato entre dois espaços, o que faz com que seja uma espécie de portal. Nele, as pessoas se sentem ao mesmo tempo na proteção do lar e na movimentação da rua. É um território que resume a pátria.
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