Na última quarta-feira (11), Donald Trump criticou o BuzzFeed por ter publicado um documento de 35 páginas com afirmações não verificadas sobre uma tentativa russa de prejudicá-lo, e cada vez mais jornalistas chegam ao consenso de que o presidente eleito pode estar certo.
Para muitas pessoas da mídia, validar um dos ataques do Trump não é uma coisa familiar e confortável de se fazer. As reclamações do bilionário sobre a cobertura da imprensa são tão frequentes - e normalmente injustas - que jornalistas se sentem tentados a defender o trabalho um dos outros, como se estivessem protegendo a reputação de toda a profissão. Muitos jornalistas tweetaram em apoio à CNN e Jim Acosta na quarta-feira, depois de um trecho de uma coletiva de imprensa ter terminado com Trump chamando Acosta e seu trabalho de “fake news” (notícias falsas).
Mas não houve tamanha mobilização pelo BuzzFeed quando o site foi chamado por Trump de “uma pilha falida de lixo”. Alguns jornalistas apoiaram o site, incluindo o presidente do site ProPublica, Richard Tofel, mas muitos jornalistas questionaram abertamente a capacidade crítica do BuzzFeed.
“Não é sua responsabilidade evitar a difusão de informação falsa?”, perguntou Chuck Todd a Ben Smith, editor chefe do BuzzFeed, na rede de televisão MSNBC na noite de quarta.
A colunista do Washington Post Margaret Sullivan escreveu que “publicar calúnias e difamações é, e sempre foi, uma má ideia”.
“É errado para qualquer empresa de comunicação respeitável publicar uma informação que sabe que pode não ser verdade”
A editora de mídia do Guardian Jane Martinson disse que “é errado para qualquer empresa de comunicação respeitável publicar uma informação que sabe que pode não ser verdade”.
A ética jornalística está no centro da crítica, mas existe ainda uma outra camada de frustração dos próprios repórteres. Em tempos que o novo presidente dispara constantemente na imprensa, criando novos furos na credibilidade já fraca da indústria, o BuzzFeed acabou de entregar mais munição.
“O BuzzFeed deixou que o Trump colocasse uma sombra de dúvida em todo jornalismo”, escreveu Kelly McBride, vice presidente do Instituto Poynter, no New York Times.
“Em uma era em que a credibilidade da mídia já está na sarjeta, isso não faz nada para ajudar”, acrescentou Sullivan.
“Você acha que você ajudou ou prejudicou a credibilidade da mídia com o público?”, Todd perguntou para Smith.
“O BuzzFeed deixou que o Trump colocasse uma sombra de dúvida em todo jornalismo”
“Eu penso em longo prazo”, respondeu Smith. “Nós todos temos que aceitar a realidade de que temos que nos comprometer com a informação que existe, verdadeira ou falsa, e fazer nosso melhor para verificá-la e ser transparente com nossos leitores sobre o que sabemos, o que não sabemos e o que duvidamos. Eu acho que é uma coisa extremamente desconfortável de se fazer, para todo mundo”.
Na coletiva de imprensa de quarta-feira, Trump chegou a agradecer muitas agências de notícias por serem “incrivelmente profissionais” em lidar com os detalhes não verificados do documento publicado pelo BuzzFeed. Mesmo ele parece ter notado e prezado pelo comedimento mostrado pela maioria da imprensa.
Mas o Trump raramente hesita em selecionar cuidadosamente um exemplo que se encaixa na sua narrativa mais abrangente. E a sua narrativa é que a mídia é vergonhosamente tendenciosa contra ele e que ela não merece a confiança do público.
Tradução: Gisele Eberspächer
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