Há ecos evidentes de Rede de Intrigas (1976), filme clássico do cineasta Sidney Lumet sobre os bastidores do telejornalismo norte-americano, na série The Newsroom (A Redação, em tradução livre), cuja primeira temporada já está disponível em DVD no Brasil. Criado por Aaron Sorkin, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado por A Rede Social, o programa, cuja segunda leva de episódios está sendo exibida pelo canal pago HBO, retrata os bastidores de um telejornal exibido por um canal de tevê paga nos Estados Unidos, aos moldes da CNN e do Fox News.
Rede de Intrigas tinha como pano de fundo político o mandato errático do republicano Gerald Ford, que assumiu a Presidência dos EUA depois da renúncia de Richard Nixon (1913-1994), em 1974, em decorrência do escândalo Watergate, retratado em outro grande filme sobre jornalismo lançado naquele mesmo ano, Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula.
O contexto histórico de The Newsroom é outro, mas não menos instável: o governo de Barack Obama enfrenta os reflexos da profunda crise econômica que aflige os EUA, a contínua ameaça do terrorismo dentro e fora do país e a marcação implacável da oposição.
No centro da trama está o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels, de A Lula e a Baleia), indicado neste ano ao Emmy de melhor ator em série dramática. O personagem tem a ambição de fazer jornalismo isento, crítico e menos vulnerável a interesses comerciais e políticos. Um idealista até certo ponto ingênuo, apesar de sua fachada cínica. Para isso, enfrenta todo tipo de pressão, a começar pela exercida pela CEO de sua emissora, Leona Lansing, vivida pela veterana Jane Fonda (de Amargo Regresso), em grande forma e também na disputa do Emmy, na categoria de atriz convidada em série dramática.
Paralelamente, McAvoy também tem de enfrentar obstáculos na vida pessoal: seu chefe, Charles Skinner (Sam Waterston, de Gritos do Silêncio) contrata, para ser produtora do noticiário apresentado por ele, a jornalista MacKenzie "Mac" McHale (a inglesa Emily Mortimer, de Ponto Final Match Point), com quem o âncora teve uma história de amor muito mal resolvida.
Além dos protagonistas, há um interessante grupo de coadjuvantes, quase todos jornalistas, que vivem tramas paralelas que apimentam The Newsroom. Mas a grande sacada da série acaba sendo a opção de Sorkin, também criador da The West Wing (1999-2006), sobre os bastidores da Casa Branca, de recorrer a fatos noticiosos da vida real para construir os roteiros dos episódios.
O derramamento de petróleo no Golfo do México pela British Petroleum, em 2010, a ascensão do The Tea Party, ala conservadora e fundamentalista do Partido Republicano, e o assassinato de Osama bin Laden são alguns deles.
Parte da imprensa norte-americana identificou em The Newsroom a deliberada intenção de, em um ano de eleição presidencial nos EUA, usar as tramas para falar (bastante) mal dos republicanos, o que tem até sua razão de ser, uma vez que a série tem um evidente tom liberal, pró-democratas. Mas isso não faz de The Newsroom menos interessante.
Nova temporada
Na sua segunda temporada, atualmente no ar, a série explora outros temas, como a campanha de Obama para o segundo mandato contra o republicano Mitt Romey e o movimento Ocupy Wall Street, além de seguir investindo contra as patuscadas cometidas pelo governo norte-americano em sua guerra contra o terror. Um dos eixos dramáticos principais neste ano 2 de The Newsroom é uma crise que se abate sobre o canal após a exibição de uma reportagem mentirosa sobre o uso de armas químicas, produzida pelo ambicioso jornalista Jerry Dantana (Hamish Linklater), importado da sucursal de Washington no canal.
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