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O livro

Não espere encontrar no ensaio de Lars Svendsen alguma resposta definitiva para a falta de sentido que assola a vida moderna. Longe disso. O que o filósofo norueguês pretende com sua Filosofia do Tédio é realizar recortes – usando para isso referências tão diversas quanto Fernando Pessoa, o filme Psicopata Americano e Heidegger – e mostrar a relevância da experiência do tédio na contemporaneidade. Apesar do risco de se tornar, ele próprio, entediante, Svendsen segue em frente com uma escrita fluida e humana – contrariando a tendência fria e impessoal da filosofia contemporânea, afundada nos áridos mares da epistemologia. Svendsen parte de algumas teses centrais: o tédio se "democratizou" a partir do Romantismo; se relaciona com a falta de significado e, felizmente, pode ser um caminho para o autoconhecimento.

Serviço: Filosofia do Tédio (Jorge Zahar, 191 págs., R$ 29).

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Se o filósofo norueguês Lars Svendsen, de 37 anos, estiver certo – e é muito provável que esteja – o tédio se tornou uma das grandes questões da vida contemporânea. A vida muitas vezes é entediante – isso é fato. O que pode variar são as diferentes formas de lidar com essa experiência. Leia a seguir a entrevista realizada por e-mail com o autor de Filosofia do Tédio:

Caderno G – Em seu livro você defende que o fenômeno do tédio é um resultado do Romantismo. Qual é a relação entre o tédio moderno com fenômenos anteriores, como a acédia e a melancolia?

Lars Svendsen – Os dois aspectos essenciais do Romantismo são o individualismo e o anseio por um significado pessoal. E o tédio diz respeito a um indivíduo que não encontra o significado pessoal que ele espera do mundo. Como as formas tradicionais de significado – como as religiões – foram abandonadas por muitas pessoas, elas tiveram de ser substituídas por um significado pessoal. Mas esse significado tem sido difícil de alcançar.

Por que optou por uma abordagem pop na discussão sobre o tédio?

Uma razão é simplesmente porque eu tinha acabado de completar um longo estudo sobre Kant, que é tradicionalmente muito "acadêmico", e eu senti a necessidade de escrever algo um tanto quanto diferente. Outra razão foi que o livro sobre o tédio é um estudo sobre a cultura contemporânea, então pensei que a cultura contemporânea – e também a cultura pop – deveriam ser tratadas diretamente. Acredito, também, que é possível encontrar muito material filosoficamente interessante na música popular, filmes e literatura.

Heidegger é normalmente lembrado mais pela sua análise sobre a angústia, do que pela do tédio, que você afirma ser um sentimento mais contemporâneo. Quando foi que a ansiedade e angústia perderam lugar para o tédio na experiência humana?

É claro que é extremamente difícil afirmar qual foi o momento específico em que tal mudança pode ter acontecido.E pode-se encontrar o tédio como um fenômeno paralelo à ansiedade em autores como Kierkegaard. Mas eu percebi que os estudantes de hoje parecem se referir muito mais ao tédio do que à ansiedade quanto trabalhamos Heidegger. Mas eu acredito que uma grande parte da transição de um estado a outro aconteceu nos últimos 30 anos. O movimento punk, por exemplo, era todo sobre o tédio – não é coincidência que uma das primeiras músicas de punk rock foi "Boredom" [tédio], dos Buzzcocks.

De acordo com Heidegger, o tédio ganhou importância na experiência contemporânea porque, de alguma forma, a vida se tornou mais "fácil". Você concorda?

Sim, eu acredito que é um fato que a vida se tornou mais "fácil" hoje em dia. Alcançamos um novo nível de prosperidade material e conforto. As variantes pré-modernas do tédio, como a acédia, diziam respeito a quem tinha posses. Mas ,com o desenvolvimento das nossa sociedades, mais e mais pessoas alcançaram níveis mais altos de riqueza, e isso tornou possível a preocupação com questões como se as suas vidas têm significado (se você está morrendo de fome, essa simplesmente não é uma questão relevante). A vida de muitas pessoas hoje em dia podem ser resumidas no título do famoso romance de Milan Kundera: A Insustentável Leveza do Ser.

Como a experiência do tédio pode se tornar uma fonte de auto-conhecimento?

O tédio diz a você algo sobre como você vive a sua vida. Se você sente a sua vida como um "grande nada", é provavelmente porque você vive como um "nada". Por essa razão, ele te avisa que talvez você devesse reavaliar a sua forma de viver.

Recentemente, autores como Alain de Botton e Lou Marinoff escreveram livros que utilizam a filosofia como forma de ajudar as pessoas a viverem melhor. Você acredita que pode ser positivo usar a filosofia na "procura da felicidade"?

Na verdade, eu acredito que um dos maiores erros de hoje em dia é que estamos preocupados demais com nossa própria felicidade. Vivemos a nossa vida com a esperança irreal da felicidade completa, e somos provavelmente a primeira geração que é infeliz simplesmente porque nós não conseguimos ser completamente felizes. No entanto, a felicidade é normalmente algo alcançado quando estamos engajados em alguma outra atividade significativa. Assim, a chance de se tornar feliz é maior se pararmos de pensar o tempo todo sobre isso.

Lars Svenden, Filósofo

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