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“Todos os músicos são importantes e definem a característica de cada apresentação. É também o espaço para o que, na ciência, seria a pesquisa científica. É onde se pode aprofundar, estabelecer outras relações” |
“Todos os músicos são importantes e definem a característica de cada apresentação. É também o espaço para o que, na ciência, seria a pesquisa científica. É onde se pode aprofundar, estabelecer outras relações”| Foto:
  • Confira alguns destaques da produção atual da música instrumental brasileira
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O paulista Benjamin Taubkin, de 52 anos, está à frente da gravadora Núcleo Contemporâneo, que tem catálogo composto por mais de 30 CDs de música brasileira. Também é curador de festivais e ativista da música – foi um dos idealizadores da ABMI (Associação Brasileira da Música Independente). Para ele, a principal característica da música instrumental brasileira é a possibilidade da criação espontânea. Em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo, disse que essa música está viva no Brasil, seja com as guitarradas do Pará, as orquestras da Bahia ou com o choro e a viola caipira recriados.

Gazeta do Povo – Como foi seu início na música? Começou em meio à música instrumental?

Benjamin Taubkin – O começo foi tardio, aos 18 anos. Até então tocava um pouco de piano, mas nada sério. E já era interessado na música instrumental. No início, me senti atraído pela Bossa Nova. Especialmente pelos grupos instrumentais – como o sexteto de Edison Machado, o trabalho do Moacir Santos, além de Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal e Tom Jobim. Também pelo jazz americano, por intermédio de músicos como Bill Evans e McCoy Tyner. Com o tempo esse interesse foi se ampliando para a música erudita e a música tradicional, tanto do Brasil como do resto do mundo. De certa forma, embora atuando predominantemente na música instrumental, não faço distinção entre a canção bem feita e essa música ( há música instrumental muito mal-feita). Isso é, para mim, como separar o lieder [canção] de Schubert do resto de sua obra. Então, o que se convencionou chamar de música instrumental, é a música em si.

O que mais o atrai nesse gênero?

A liberdade. A possibilidade de haver espaços reais para a expressão de cada indivíduo. A criação espontânea, o improviso. A igualdade: todos os músicos são importantes e definem a característica de cada apresentação. É também o espaço para o que, na ciência, seria a pesquisa científica. É onde se pode aprofundar, estabelecer outras relações.

Como está a cena da música instrumental brasileira hoje? Ela é reconhecida nacionalmente? E internacionalmente?

Acho – viva! – que existe um número muito grande de músicos atuando. Nestes últimos anos foi encontrada uma expressão mais local, menos dependente do jazz, embora mantendo um intercâmbio com esse gênero. Há músicos no Pará fazendo uma música mais ligada as guitarradas e carimbós. Em Natal, há músicos tocando Zambé. Na Bahia, orquestras diversas com metais e percussão. Assim como a Spock Frevo, de Recife. Mas o choro é música instrumental. Assim como a viola caipira, tão viva nos dias de hoje.

Por que o gênero não se difunde mais? Há algum tipo de estigma em relação à música instrumental ou faltam espaços para divulgação?

A música não é separada das outras formas de expressão e reflete o estado da sociedade. Acho que faltam veículos para a difusão desta música – como faltam meios para a difusão de qualquer música no país – que não passem pelo jabá. Uma iniciativa séria de qualquer Ministério de Cultura seria olhar com atenção esta questão. Há vários caminhos para resolvê-la. Porque basta tocar que o público se multiplica.

Há público interessado?

Sim. Existem diversos festivais em todo o país. De Manaus a Curitiba, passando por Pernambuco, Ceará, Minas. Se os concertos forem bem divulgados, podem ter bom público. No meu caso, tenho uma gravadora voltada a esse universo. Existe há 12 anos sem depender de patrocínios ou de verbas públicas. Vivemos do público. Há outras gravadoras dessa área, como a Maritaca e a De Lira, do Rio de Janeiro. Além da Acari, voltada ao choro.

Qual o futuro sinalizado para o gênero?

Creio que há vários caminhos possíveis. É uma música que não segue a lógica do mercado. E isso, embora tenha um preço, dá a liberdade de buscar e encontrar caminhos inesperados. Tenho buscado o contato com a música tradicional, como o côco, o congado mineiro, as caixeiras do divino do Maranhão. Também creio que parte da canção brasileira que está sendo feita hoje tem um pé forte nos procedimentos da música instrumental. Os trabalhos de Monica Salmaso, Ná Ozzetti, Ceumar, para falar de algumas cantoras, tem esse forte vínculo. E toda uma nova geração também: há projetos mais pop, como o Hurtmold ou La Pupuña, do Pará.

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