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José Luís Peixoto, um dos mais festejados autores portugueses da nova geração, estará em julho no Brasil, como um dos convidados da 10ª Flip | Divulgação
José Luís Peixoto, um dos mais festejados autores portugueses da nova geração, estará em julho no Brasil, como um dos convidados da 10ª Flip| Foto: Divulgação
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Flip 2012

Le Clézio e Sennett confirmados

Entre as presenças confirmadas na 10ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) nos últimos dias, o grande destaque é o escritor francês Jean-Marie Gustave Le Clézio (foto), vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2008. De sua autoria, a Cosac Naify prepara o lançamento de História do Pé para junho, um mês antes do evento, que acontecerá entre 4 e 8 de julho na cidade do litoral fluminense.

Também confirmado está Teju Cole, que venceu neste ano o Prêmio Hemingway/PEN Award pelo romance Cidade Aberta. Outro nome de peso anunciado é o do sociólogo e historiador norte-americano Richard Sennett, autor do clássico O Declínio do Homem Público, que terá dois títulos lançados pela Record também em julho. (PC)

  • Edição brasileira de Livro foi lançada pela editora Companhia das Letras

Há algo de muito sedutor em Livro, romance do escritor José Luís Peixoto, recém-lançado pela Companhia das Letras. O autor, um dos mais festejados da nova geração da literatura portuguesa, consegue, por conta de sua habilidade na construção narrativa, fazer de uma história tocante, mas à primeira vista pouco original, algo novo – e surpreendente.

Peixoto, que estará em julho no Brasil, como um dos convidados da 10.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), consegue esse feito raro ao colocar o leitor no cerne de uma prosa generosa em descrições ao mesmo tempo detalhadas e, de propósito, até certo ponto imprecisas, farta em adjetivos, mas nunca prolixa. Recorre à não linearidade, a fragmentos de textos aparentemente desconectados, sempre vinculados a um dos personagens, que aos poucos vão formando um mosaico fascinante, no qual tudo, de repente, co­­meça a se articular, mas não de forma esquemática, sempre a guardar uma surpresa, um sobressalto bem-vindo.

Assim, é quase impossível não se deixar levar pelo fluxo de um texto caudaloso, que até pode levar a territórios familiares, mas nunca a bordo de uma nau previsível.

Abandono

Nas primeiras páginas de Livro, fica claro que o romance terá como protagonista um menino chamado Ilídio. Ficamos sabendo, em uma sequência de acontecimentos de uma tristeza imensa, que ele é abandonado pela mãe à própria sorte em uma estradinha que corta um pequeno vilarejo no interior de Portugal. Com ele, são deixados uma mala e um livro, peça fundamental no desenvolvimento da trama.

Horas depois desse abandono, tão absoluto quanto irreversível, virá em resgate do menino, com muito atraso, o pedreiro Josué, um sujeito rude, sem aparente vocação afetiva. O personagem até poderia ser seu pai biológico, mas não é. No entanto, lhe devota ao longo dos anos que virão um amor e um cuidado tão grandes que isso se torna mero detalhe factual.

Engana-se, entretanto, quem acreditar que, como Oliver Twist, romance clássico de Charles Dickens, Livro é uma obra sobre a orfandade. Também o é. Assim como é a respeito do amor, do destino, da amizade, da lealdade e, acima de tudo, sobre Portugal.

Na pequena vila onde a trama se inicia nos anos 1930, o tempo parecece transcorrer segundo uma lógica própria – e Peixoto, com seu texto generoso em surpresas, rodopios narrativos, idas e vindas, é capaz de materializá-lo em seu próprio ritmo com extrema destreza.

Há poucos índices nesse Portugal algo paralisado que nos revele em que época os personagens estão imersos. Cabe ao mundo além dos limites daquela localidade fazê-lo. E o fará a seu tempo.

Ainda na pré-adolescência, Ilídio (uma brincadeira com a ideia de "idílio"?) conhece Adelaide, uma menina alguns poucos anos mais velha, que vai viver na localidade com Lubélia, sua tia solteirona, dona de um pequeno estabelecimento comercial que serve à cidadezinha como um misto de correio e empório.

Do encontro entre Ilídio e Adelaide nasce um amor profundo, platônico, na melhor tradição romântica, fadado a se estender por décadas, mas também assombrado pela impossibilidade.

Em um rico universo social e humano, descrito de forma ao mesmo tempo afetuosa e algo irônica, engraçada até, pelo narrador, ficamos conhecendo os companheiros de Ilídio, todos personagens muito ricos e bem-delineados: Cosme, que se tornará o melhor amigo para o resto da vida, e Galopim, um rapaz de origem muito humilde, que dedica a vida a cuidar do irmão inválido, limitado pelas graves sequelas de uma paralisia cerebral.

Emigração

Mas há outro intento de Peixoto que se torna claro à medida em que o romance avança: fa­­­lar das vidas dos portugueses que deixam Portugal, em consequência do atraso econômico e do regime fascista do ditador António Oliveira Salazar, que governou o país entre 1932 e 1968.

Centenas de milhares de imigrantes se instalam em Paris, a maior parte sobrevivendo graças a subempregos, entre eles Adelaide, que depois é seguida por Ilídio e Cosme. É quando a História invade suas vidas, os retirando da aparente imobilidade em que vivem no vilarejo para lançá-los, sem piedade, nas ondas do destino. GGGG

Serviço:Livro, de José Luís Peixoto. Compania das Letras, 288 págs., R$ 42. Romance.

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