Em 2004, o administrador carioca André Garcia, de 29 anos, largou uma carreira bem-sucedida na área de marketing de uma empresa de telefonia móvel disposto a ingressar no mestrado de Psicologia Social da PUC-SP. "Estava cansado da falácia de que quanto mais você consome, mais é feliz. Não via a mínima diferença entre o celular da empresa na qual eu trabalhava e o do concorrente", conta.
Dedicou um ano à sua preparação para a prova de admissão do mestrado, durante o qual leu mais de cem títulos. A busca por alguns exemplares não foi tarefa fácil. Como não encontrou nada nos sebos que visitou, apelou para a internet. "Encontrei cem sites de sebos, só seis com acervo on-line. Mas, em geral, os livros eram muito caros, porque os livreiros sabiam que eram os únicos que ofereciam o serviço", conta.
Indignado com o fato de que muitos sebos tornaram-se grife, ao invés de facilitar o acesso a livros fora de mercado e a um custo mais baixo, André teve a idéia de criar uma espécie de "Google dos sebos", que centralizasse as buscas dos leitores e representasse uma alternativa barata. "Queria desequilibrar esta estrutura de poder."
O projeto que começou a delinear ajudaria a complementar a bolsa de R$ 850 do mestrado que acabou não vindo. O jeito foi trancar o curso e dedicar-se exclusivamente à nova idéia.
A programação do portal sairia cara se fosse encomendada em média, R$ 300 mil. "Para quem tinha lido Freud, devorar livros sobre (a linguagem) java script não foi tão complicado", brinca Garcia, que dedicou outro ano aos estudos e à escrita do código de "cem mil linhas, um software de grande porte equivalente ao Aurélio".
Lançado em novembro de 2005, o Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br) abriga mais de milhão de títulos de mais de 600 sebos associados de 138 cidades do Brasil que somam um acervo físico de 10 milhões de itens. O número ainda é pequeno em comparação ao número de visitantes de mais de 2.300 municípios: nos horários de pico, o portal contabiliza uma busca a cada segundo.
Mas é preciso atentar-se para o fato de que, aproximadamente, 65% dos municípios brasileiros não possuem livrarias, de acordo com o IBGE (Pesquisa de Informações Básicas Municipais Gestão Pública 2005). "O portal serve de estímulo ao surgimento de sebos em cidades pequenas", avalia André. Para viabilizar a iniciativa, ele compartilha os custos com os associados. Dependendo do plano, eles pagam uma mensalidade para catalogar seus livros e 5% do valor de cada venda.
Participação local
A reportagem do Caderno G testou a eficácia do portal. Buscou no site o livro Intimidade, de Hanif Kureishi, esgotado na editora Companhia das Letras. Coincidência ou sorte, o título foi encontrado em alguns sebos do Brasil. Um deles, a poucas quadras da redação do jornal, na Travessa Nestor de Castro a livraria Alexandria.
O proprietário, Eduardo Beirith, associado ao portal há cerca de um ano, conta que recebe de dois a três pedidos diários de leitores on-line. "O site deu mais visibilidade à loja", conta o livreiro, que já atendeu clientes do Amazonas, Piauí, Pernambuco e até da Suíça. Beirith cadastrou seis dos dez mil livros de seu acervo e, em breve, pretende disponibilizar todo o estoque na internet.
Membro do Estante Virtual há apenas uma semana, João Nei de Almeida Barbosa, proprietário da Arcádia Livraria e Eventos, prefere ir mais devagar com o andor. Vendedor de livros em geral, ele optou por cadastrar apenas 200 títulos todos raros. A estratégia é uma forma de se diferenciar dos concorrentes. "Livros comuns podem ser encontrados em qualquer lugar", conta.
Com apenas um computador e nenhum funcionário ele conta com a ajuda da esposa , João Nei demorou para aceitar os repetidos convites para participar do Estante Virtual. "É muita coisa para cuidar, não conseguíamos fazer o cadastramento". Quando finalmente decidiu se associar, o esforço valeu a pena. Além das vendas pela internet, ele já recebeu visitas como a de um casal de Guarapuava que ficou sabendo do sebo pela internet.
João Nei já pensa em comprar mais um computador para dinamizar as vendas virtuais. O incremento segue uma tendência apontada em pesquisa realizada pelo Estante Virtual, em maio deste ano, que aponta um aumento médio de 35% nas vendas dos livreiros associados. Com os lucros, 22% dos livreiros investiram em novos computadores e/ou softwares de controles de estoque, 12% contrataram novos funcionários e 5% expandiram as instalações de suas livrarias.
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