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Memória

Precisamos falar dos Morozowicz

A coreógrafa Milena Morozowicz faz uso de rede social para tornar públicos fotos e documentos que reconstituem a trajetória ímpar de sua família, inscrita na história cultural paranaense

Milena Morozowicz: “Meu pai era um homem bonito, elegante, muito culto e educado.” | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Milena Morozowicz: “Meu pai era um homem bonito, elegante, muito culto e educado.” (Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo)
Tadeu Morozowicz, ao lado de bailarinas, em espetáculo comemorativo aos 50 anos da escola de ballet por ele criada |

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Tadeu Morozowicz, ao lado de bailarinas, em espetáculo comemorativo aos 50 anos da escola de ballet por ele criada

Coreografia do Ballet Morozowicz para a peça musical

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Coreografia do Ballet Morozowicz para a peça musical

O governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha, em 1953, nos bastidores da montagem do espetáculo Copélia, do Ballet Thalia |

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O governador do Paraná, Bento Munhoz da Rocha, em 1953, nos bastidores da montagem do espetáculo Copélia, do Ballet Thalia

Milena Morozowicz em cena, na coreografia criada para a peça

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Milena Morozowicz em cena, na coreografia criada para a peça

Os olhos muito verdes e penetrantes de Milena Morozowicz brilham quando ela fala da trajetória de sua família, especialmente quando lembra do pai, Tadeu, bailarino, ator, diretor teatral, coreógrafo, professor e um dos pilares da história da cultura curitibana.

Na casa onde mora, em uma região bucólica do bairro Santa Felicidade, Milena, hoje com 74 anos, guarda um baú literalmente repleto de memórias. Dentro dele, vários álbuns de fotografias que, imagem a imagem, ilustram e reconstituem a jornada dramática e espetacular empreendida por gerações pelos Morozowicz. Ela, que seguiu os passos paternos e se tornou uma importante coreógrafa e pesquisadora na área da dança e do movimento no Brasil, narrou essa história no livro Destino Arte – Três Gerações de Artistas, publicado em 2000 e hoje esgotado.

A obra alterna, ao longo de mais de 300 páginas, o relato autobiográfico de Milena com um comovente depoimento, todo narrado em primeira pessoa, de seu pai. Tadeu morreu vítima de um infarte fulminante, em 1982.

Após um período de afastamento voluntário dessas lembranças todas, Milena, que chegou a pedir a uma amiga – a ex-bailarina e hoje psicóloga Simone Marchesini – que guardasse todo o material em sua casa, decidiu se reaproximar do legado. Nos últimos meses, por estímulo de Simone, ela vem postando, com regularidade, mas sem uma periodicidade pré-definida, as fotos em seu perfil pessoal e em sua página pública no Facebook.

Ao tornar públicas as imagens do acervo que guarda em casa, ela compartilha momentos preciosos de sua história profissional, mas, também, permite a seus contatos na rede social, sobretudo aos que vivem em Curitiba, o acesso a um verdadeiro tesouro para quem se interessa pelos rumos trilhados pela cultura na cidade.

Polônia

"Ele era um homem bonito, elegante, muito culto e educado", lembra Milena, para quem Tadeu Morozowicz foi mais do que mera figura paterna, mas um modelo de ética, comportamento e profissionalismo, que ela tomou como exemplo, embora tenha aprendido, como ele mesmo esperava dos filhos, a caminhar com as próprias pernas.

Nascido no ano de 1900, em Varsóvia, capital da Polônia, Tadeusz (como foi registrado) veio de uma linhagem de artistas e intelectuais. Era filho de Henryk Morozowicz, poeta, autor teatral, diretor e ator, que morreu com apenas 37 anos.

Em homenagem ao pai, Tadeu batizaria seu primogênito, que ficou internacionalmente conhecido como Henrique de Curitiba (1934-1908), um dos compositores mais importantes da música clássica contemporânea feita no Brasil. "Ele escolheu o pseudônimo porque achava o sobrenome Morozowicz difícil de pronunciar, e também queria homenagear a cidade onde nasceu", conta a coreógrafa, que tem mais um irmão, o regente, flautista e professor de música Norton Morozowicz, oito anos mais novo do que ela.

A mãe de Tadeu, Natalia Morozowicz, foi uma grande atriz, dama do teatro na Polônia, por quem Milena se diz até hoje apaixonada, apesar de nunca tê-la visto pessoalmente. A avó faleceu em 1964, quando Milena tinha 24 anos. "O único que a conheceu foi o Henrique, na Polônia, onde ele foi se apresentar. Quando nossa avó o viu, com um smoking meio surrado, providenciou imediatamente que um alfaiate lhe fizesse um traje condizente com a ocasião. Na Polônia do tempo dela, era uma honra vestir os artistas", conta a coreógrafa.

Stanislawski

Tadeu chegou ao Brasil em 1925, encarregado pela companhia de ópera do Teatro Scala de Milão, na Itália, de selecionar e ensaiar um grupo de bailarinos no Rio de Janeiro que acompanhasse a trupe em sua turnê pela América do Sul.

Antes disso, desde a adolescência, muito por conta do rico ambiente artístico em que nasceu e cresceu, Tadeu havia estudado balé, primeiro na Polônia e depois na Escola Imperial da Rússia, em São Petersburgo. Os estudos de teatro vieram um pouco mais tarde, com Constantin Stanislavski, que à época fazia uma revolução na arte de interpretar em Moscou.

Quando veio ao Rio de Janeiro, Tadeu, que viveu aventuras épicas e inimagináveis durante a Primeira Guerra Mundial – como atravessar o gigantesco território continental da Rússia, até seu extremo oriental, com um irmão gravemente ferido em combate – formava, com a bailarina Sofia Faliszewska, sua namorada, o Duo Falmor. Após o término da turnê da companhia operística pela América do Sul, os dois, em vez de retornar à Europa, resolveram permanecer no Brasil, onde se apresentaram, com sucesso, em várias casas de espetáculos cariocas.

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