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"Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" é um filme gay. "Mas gay para ser visto até pelo mais homofóbico dos homofóbicos", afirma o diretor, o paulista Daniel Ribeiro, 31. "É doce, tem mais a ver com o amor entre duas pessoas do que com o sexo entre dois caras", diz o cineasta, também autor do roteiro sobre o romance entre dois garotos adolescentes. O filme, que estreia amanhã, é seu primeiro longa-metragem e já saiu do último Festival de Berlim com dois prêmios: o Fipresci, da crítica, e o Teddy, para produções gays, ofuscando nessa categoria o também brasileiro "Praia do Futuro", de Karim Anouz. Antes de entrar em cartaz, a produção, orçada em R$ 2,6 milhões, já tem 154 mil fãs no Facebook, graças ao sucesso do curta que originou tudo: "Eu Não Quero Voltar Sozinho", visto mais de 3 milhões de vezes no YouTube. As duas obras têm os mesmos personagens, mas em tramas ligeiramente diferentes. Leo (Ghilherme Lobo) é um garoto cego, encurralado entre a família superprotetora e os valentões da escola. Sua única companhia é Giovana (Tess Amorim). Recém-chegado ao colégio, Gabriel (Fabio Audi) aos poucos conquista a atenção do protagonista, entre excursões da escola, lições de casa em dupla e dancinha ao som de Belle & Sebastian. O vínculo entre os dois cresce sem que a homossexualidade seja uma questão. "Ser gay não é um problema para os personagens, mas fora do filme eu queria que o público se perguntasse por que se identifica com a história mesmo quando não é gay", afirma Ribeiro. A ideia de criar um personagem cego serve de metáfora para falar da origem da sexualidade, conta o cineasta. "É alguém que nunca viu um cara e mesmo assim se apaixona por um, sem escolha." Na contramão de produções recentes, o filme não mostra cenas de sexo e não tem nudez. "É importante que haja filmes que explicitem o sexo entre dois homens, como 'Tatuagem' [de Hilton Lacerda] e 'Praia do Futuro', mas eu quis esvaziar essa questão," diz Ribeiro. A abordagem light não impediu que o curta enfrentasse algumas dificuldades em 2011. No Acre, a sua exibição em escolas públicas, dentro de um programa educativo de direitos humanos, foi cancelada depois de queixas de pais de alunos. Tietagem Os atores dizem que são reconhecidos por aí desde o lançamento do curta, há quatro anos. "São adolescentes vindo dizer como o filme mexeu com eles", afirma Fabio Audi, 26. Ele estudava cinema à época em que fez o teste para entrar no elenco. Mesmo em Berlim e em Guadalajara, no México, onde o filme também levou um prêmio, os garotos chegaram a ser apontados na rua. "Alguns achavam que eu era cego de verdade", afirma Ghilherme Lobo, 19, estreante no cinema. Ele aprendeu a ler em braile para o papel. Daniel Ribeiro, que já dirigiu o programa "Viva Voz", no canal GNT, e o projeto "Música de Bolso", pretende seguir com temática gay. Seu primeiro curta, "Café com Leite" (2007), também premiado em Berlim, já rondava esse universo. "Ninguém pergunta a um diretor por que seus personagens são todos héteros, mas sempre me perguntam porque só retrato gays. Quero que no futuro digam com espanto: 'Vai fazer um filme com personagens heterossexuais?'"

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