O cozinheiro Raimundo Nonato em uma das cozinhas do filme "Estômago"| Foto: Fotos: Divulgação

A Pitty que você conhece tem mais de mil comunidades no Orkut e é citada quase quatro milhões de vezes em qualquer pesquisa por seu nome no Google. Canta rock pesado, coleciona sucessos e prêmios (dois só no último Video Music Brasil, da MTV) e tem, em dez anos de carreira, dois discos em estúdio - "Admirável chip novo" (2003) e "Anacrônico" (2005) - e respectivos DVDs, lançamentos que lhe renderam 400 mil cópias vendidas. Agora, que bota no mercado o ao vivo "{Des}Concerto", CD e DVD em que reúne seu repertório predileto e duas canções inéditas, a cantora baiana anuncia mudanças. Vem aí a Pitty que você ainda não conhece, para além da inquietação adolescente mostrada até então.

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- Eu não gosto de ter amarras. Não quero ficar nessa de 'ah, eu sou roqueira'

O fato é que Pitty está mais madura, é mulher feita. No próximo dia 7 completa 30 anos. Já não ostenta as bochechas de musa adolescente e mostra preocupações que, se revelam um olhar mais adulto, também abrem as portas do futuro. Depois das férias, já que está na estrada há cinco anos, nem ela sabe o que virá. Um novo disco, diz, só mais pra frente. Mas a reflexão amadurecida já se percebe forte mesmo no repertório de "{Des}Concerto". Em "Malditos cromossomos", umas das inéditas, Pitty traduz a própria perplexidade diante da constatação, com o perdão do ditado, de que quem herda não furta e de que a vida adulta está aí.

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- Muitos amigos meus estão tendo filhos. E entra essa coisa dos cromossomos. O que essa criança vai herdar, sabe? Eu mesma, por exemplo, achava que não tinha nada a ver com minha mãe. Quando fiquei mais velha comecei a perceber coisas em mim que são dela. E pensei: 'Não, malditos cromossomos!'. Não que seja ruim, mas eu achava que não tinha nada a ver.

E por falar em maturidade e maternidade, levando-se em consideração os 30 anos quase completos de Pitty, uma pergunta não cala: e filhos, você pensa em tê-los? A cantora pára, reflete dois segundos e deixa bem claro que, por ora, esta não é uma urgência:

- Já tenho gatos - diz, com um riso no canto da boca.

"Malditos cromossomos", como ela mesma define, é sobre o quanto a gente pode culpar o meio ou o quanto somos fruto das características genéticas e da vida familiar. "Livre arbítrio ou prisão / Genealogia da exclusão / Tanta coisa já contida / e o exemplo ao longo da vida / Espécie de bagagem / Um dia sempre pesa na viagem ".

- Vejo as pessoas culpando muito o universo, o mundo, o outro. A apatia está presente neste contexto. E a genealogia da exclusão também.

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A maturidade mira os apáticos também na outra canção inédita do DVD, "Pulsos", como a anterior, parceria dela e do guitarrista de sua banda, Martin. Desta vez, porém, a compositora reforça os limites da paciência e a necessidade de um plano B. Sempre.

- Uso o suicídio como metáfora. E o refrão tem um certo otimismo, mas ao mesmo tempo tem aquela coisa meio "drama queen", que faz parte da minha essência. Tipo, vou ter paciência, mas guardarei os pulsos para o final, tenho meu plano B - explica ela, que canta "Pulsos" no show, gravado em uma noite no Citibank Hall, em São Paulo, a todo pulmão: "Tenta achar que não é assim tão mal / Exercita a paciência / Guarda os pulsos pro final / Saída de emergência".

"{Des}Concerto" guarda outras novidades - antes das que nos esperam após as férias da cantora - e será lançado também em pen drive , embora Pitty reafirme a qualidade sonora do CD/DVD, já que, afinal, "ouvir no computador não é a mesma coisa".

- Eu acho esse ritual (de ler as letras e curtir o encarte) fascinante. E enquanto for este o formado, procuro incentivar, porque sei o trabalho que dá fazer um disco.