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Em meio ao intenso revival dos anos 80, o nome do R.E.M. quase sempre é deixado de lado. É verdade que o grupo americano só conheceu o estrelato a partir de 1991, quando abriu as portas do mercado para o chamado rock alternativo, porém sua trajetória começa exatamente uma década antes. Um caso raro de banda com três gerações de fãs, comparável, entre seus contemporâneos, apenas a U2 e Red Hot Chili Peppers.

Mas nada como um DVD caprichado para corrigir certas injustiças históricas. E When The Light is Mine... The Best of I.R.S. Years 1982 – 1987 comprova o que muita gente já sabia: a obra do R.E.M. pré-"Losing My Religion" (seu primeiro hit mundial) é, sim, tão importante quanto o que viria depois.

Recém-chegado às lojas brasileiras (e, lamentavelmente, sem legendas em português), o DVD traz registros da banda da Geórgia em sua fase independente, quando era cortejada pelo público universitário e gravava pelo pequeno selo I.R.S. Records. São videoclipes, apresentações em programas de televisão, entrevistas e ensaios. Boa parte do material aparece pela primeira vez no formato digital, o que torna o CD lançado simultaneamente um mero acessório do produto audiovisual. Até porque as músicas selecionadas já figuram em coletâneas do período inicial do grupo, todas disponíveis em catálogo ou dando sopa na internet.

Incrivelmente jovens – e nerds – o vocalista Michael Stipe (ainda cabeludo), o guitarrista Peter Buck (sempre elegante), o baixista Mike Mills (também um gênio dos backing vocals) e o baterista Bill Berry (fora do R.E.M. desde 1997) tocam e falam com uma empolgação apaixonante. When The Light is Mine capta aquele instante mágico de qualquer banda iniciante, quando a cumplicidade e o desejo de se expressar são maiores do que tudo.

Muitas sementes que o grupo colheria mais tarde já estavam plantadas ali. A começar pelas letras de Stipe, nada infantis para alguém no começo da carreira – com o passar dos anos, elas ficariam cada vez mais enigmáticas. A preocupação estética com os vídeos, uma das marcas do R.E.M., também é antiga. Mesmo produções toscas, como a de "Can’t Get There From Here" (e seu efeito cromaqui medonho), revelam o mínimo de ambição artística. Você nunca viu, e nem vai ver, um clipe "padrão" da banda.

Constata-se ainda que, apesar de fortemente influenciado pelo pós-punk britânico nos primeiros discos, o R.E.M. sempre flertou com as raízes da música norte-americana. Cortesia de Buck, criado ouvindo folk e country-rock e bandas como The Byrds e Big Star. Em um momento intimista do quarteto, incluído nos extras do DVD, ele adianta os dedilhados acústicos que mais tarde fariam sua fama. Fama que viria apenas no fim dessa fase independente, às custas de hits como "Finest Worksong", "It’s The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)" e "The One I Love".

Foram quase dez anos de "ralação" no underground, que fizeram a banda chegar ao mainstream no auge de sua maturidade. Só isso explica o fato de quatro sujeitos comuns alcançarem o estrelado e, surpreendentemente, continuarem comuns. GGGGG

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