Toda a trajetória artística de Parsila do Amaral, uma das grandes damas da pintura nacional, será contada pelo Catálogo Raisonné, em preparação pela Base7 Projetos Culturais com o patrocínio da Petrobrás. A produção já localizou mais de 2 mil criações da brasileira esboços, ilustrações, gravuras, esculturas e pinturas conservados por museus, instituições e colecionadores particulares. Mas ainda há obras desaparecidas, entre elas, 20 pinturas a óleo (a técnica com maior valor de mercado). Em busca dessas preciosidades perdidas, a historiadora Marília Bonas chega ao Paraná na próxima sexta-feira (dia 1.º) com a esperança de descobrir mais peças do espólio artístico de Tarsila.
O eixo Rio São Paulo concentra a grande maioria das obras encontradas, seguido por Belo Horizonte e Brasília. Até o momento, há notícia de apenas seis peças no interior paranaense. São desenhos e gravuras que estão aos cuidados de um familiar da pintora. Marília acredita que existam outras criações em papel ou mesmo a óleo no estado. "Muita gente que tem obras da Tarsila não é do metiê, às vezes nem sabe da importância de um desenho dela. A Tarsila tinha o hábito de dar seus desenhos com dedicatórias a muita gente", diz a historiadora. A conservação das obras localizadas em geral é boa, segundo Marília, mas algumas peças em papel, que apresentam valor de mercado menor e são mais sensíveis, encontram-se em pior estado.
Quem possui alguma criação da artista, inclusive um esboço, tem até o fim de junho para adicioná-la ao Catálogo Raisonné (leia como faze-lo no quadro ao lado). A edição impressa em três volumes pretende catalogar toda a produção artística de Tarsila, ampliando o trabalho realizado em 1875 por Aracy Amaral, agora consultora do projeto, que contabilizou 900 obras.
O catálogo terá também uma versão eletrônica em CD-ROM e para a internet. As imagens das obras serão reproduzidas em pequenas proporções, acompanhadas pela ficha técnica e a lista de exposições pelas quais a peça passou, além das aparições em publicações e das críticas recebidas. Estudos e esboços mostrarão o caminho galgado por Tarsila até a obra final.
A principal diferença do projeto em comparação a outras publicações de arte é a sua completude. "O Catálogo Raisonné acompanha a trajetória inteira da Tarsila, seus altos e baixos, e diz muito sobre como era a formação de um artista na década de 20", diz Marília.
Trajetória
A vanguarda modernista brasileira não seria a mesma sem Tarsila do Amaral. Entre viagens à França, onde travou contato com mestres cubistas, e períodos de criação inovadora no Brasil, Tarsila esteve à frente das principais tendências que se seguiram à Semana de Arte de 1922.
Embora ausente só voltaria da Europa quatro meses depois , ela se tornou-se símbolo daqueles dias de revolução cultural. Com sua paleta de cores "caipiras" e a brasilidade dos temas retratados, Tarsila foi a precursora da pintura "pau-brasil". Mais tarde, então casada com Oswald de Andrade, fez da tela "Abaporu" a inspiração para o Movimento Antropofágico. Já na década de 1930, iniciou a pintura de temas sociais com o quadro "Operários".