Após os produtores de “La La Land” Jordan Horowitz e Marc Platt fazerem seus discursos de recebimento da estatueta de melhor filme, o produtor associado Fred Berger descobriu que seu filme não era, na verdade, o vencedor – e soltou um estranho “a propósito, nós perdemos” antes de sumir do palco como Homer Simpson desaparecendo entre um arbusto.
Berger parecia ainda não ter dimensionado o que exatamente estava acontecendo – e quem poderia culpá-lo? Era uma situação embaraçosa. Porém em meio à confusão, surgiu uma pessoa capaz de assumir o controle e explicar a situação – mesmo imediatamente após terminar o discurso de agradecimento pelo prêmio mais importante da sua carreira que, na verdade, ele não havia conquistado.
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Horowitz assumiu o microfone para anunciar. “Moonlight venceu”, disse. “Caras, caras, me desculpem. Não. Há um erro”, disse. “Moonlight, vocês, caras, venceram o prêmio de melhor filme”, prosseguiu. “Não é uma piada”, assegurou. “Venham aqui”, ordenou, fazendo com que a equipe de “Moonlight” subisse ao palco para receber o principal Oscar que, por alguns minutos, Horowitz pensou pertencer ao seu filme.
Enquanto o público estava paralisado em surpresa, Horowitz – como que para assegurar que não se tratava de fake news – exibiu para o close das câmeras o cartão com o nome do ganhador. “Moonlight”, disse. “Melhor filme.”
O apresentador Jimmy Kimmel ressurgiu com cara de quem gostaria de estar em qualquer lugar naquele momento, menos no palco do Oscar. Tentou fazer algumas piadas. Disse que gostaria que “Moonlight” e “La La Land” pudessem vencer.
“Estou realmente emocionado de entregar este troféu para meus amigos de Moonlight”, discordava Horowitz.
Horowitz não foi apenas um gentil perdedor; transformou-se a coisa mais próxima de um herói folk que o Oscar pode entregar.
É engraçado, certo? Porque o que ele fez não foi exatamente revolucionário. Ele disse a verdade mesmo sabendo que seria difícil, estranho e embaraçoso, pois ele estava diante do mundo agradecendo aos amigos e familiares por um prêmio que não lhe pertencia.
Horowitz poderia ter saído para os bastidores e deixado Kimmel e Warren Beatty com a missão de dar as explicações. Ao invés disso, fez o trabalho sujo com aparente orgulho, olhando ao redor e abraçando seus amigos de “Moonlight”.
Quando a verdade é inconveniente, muita gente a distorce conforme sua vontade.”
Raridade
Este tipo de comportamento não deveria ser excepcional, mas a verdade tem sido difícil de aparecer ultimamente. Os Estados Unidos saíram de uma eleição com candidatos sapateando alegremente sobre os fatos e o presidente Donald Trump segue com alegações enganosas. Quando a verdade é inconveniente, muita gente a distorce conforme sua vontade. Aparentemente, este não é o estilo de Horowitz. O que passou pela sua cabeça enquanto tudo isso acontecia?
“Foi, sem dúvida, um momento surreal”, disse o produtor em entrevista ao canal ABC. “Mas eu procurei ter certeza de que a coisa certa seria feita porque, àquela altura, não era mais sobre mim; era sobre fazer com que ‘Moonlight’ tivesse o reconhecimento que realmente merecia. Como eu disse nos bastidores, aqueles caras são meus amigos e eu queria ter certeza de que eles teriam o momento deles.”
Horowitz disse que havia muita confusão e caos nos bastidores. “Foi quando eu decidi ir ao microfone e fazer com que todo mundo soubesse o que estava acontecendo e então mostrei o cartão porque achava que as pessoas precisavam de alguma clareza naquele momento”, prosseguiu. “Era como se houvesse uma percepção lenta de que algo estava errada e precisava ser corrigido, então saltamos para a frente do palco e fizemos isso.”
Depois do momento mais chocante da história do Oscar, o diretor de “Moonlight”, Barry Jenkins, fez questão de dizer aos repórteres que “os amigos do ‘La La Land’ foram muito graciosos. Não consigo me imaginar estando naquela situação e tendo de fazer isso. Eu não fiquei sem palavras porque eles ganharam. Fiquei sem palavras porque foi muito gentil da parte deles fazer isso.”
Depois da cerimônia, Horowitz disse ao canal E! que o seu trabalho é assumir o controle. “Veja, sou produtor. Eu reúno coisas, mudo direções e conduzo as coisas adiante”, afirmou o produtor, que ainda assim deixou o Oscar com seis estatuetas.
Enquanto era um vencedor, Horowitz parecia um um cara legal o bastante. Mas como um perdedor, ele mostrou como um campeão de verdade deve ser.